sexta-feira, março 24, 2006

Filme!

A minha vida dava um filme!
Nunca ninguém vos disse isto? Se não, digo-vos eu. A sério, a minha vida dava um filme. Começo por uma característica engraçada, normalmente de 2 em 2 anos recorro a um advogado. Pois é, devo ser das clientes mais assíduas, acho até que já me trata como se fosse da família.
Quando me preparava para fazer 25 anos, um quarto de século de vida, merecedor de uma bela comemoração, pimba, tenho um acidente de carro gravíssimo que me prendeu a uma cama durante meses. Um dente partido, uma perna destroçada, uma operação de 6 horas, dois meses de gesso, 9 de fisioterapia, e eu fiquei quase boa. Cheia de mazelas, cicatrizes, dores de alma mas pronta para recomeçar a viver.
Logo aí tive problemas! Apuramento de responsabilidades, culpas, razões para o acidente, companhias de seguro…. e eu a ver a minha vida a andar para trás. Lá fui eu a correr ao advogado. Consulta após consulta descobri direitos que nem sequer podia imaginar. Danos morais e patrimoniais, indemnizações para cima, percentagens para baixo. Uns meses depois lá chegamos a acordo sem termos que recorrer aos tribunais. Confesso que me venceram pelo cansaço: Um ano quase inteirinho em casa; Tinha perdido o emprego, porque um mês antes do acidente me tinha despedido para ir para um novo trabalho; A viver de novo à custa dos papás; confesso que queria receber a indemnização a todo o custo. Precisava dela para recomeçar a viver. Planear a vida. Colocar de novo pedra sobre pedra.
Mas este não foi o único acidente que tive, de facto até foi o segundo. O primeiro tinha eu 13 anos de vida. Saí de casa para o liceu, tinham uns amigos meus ido buscar-me para as aulas da tarde. Primeira rua, tudo ok, risos e conversas animadas. Quando chego à segunda já não passei. Atravessei sem olhar e pimba, fui atropelada por um automóvel. Um olho negro, um traumatismo craniano, um mês em casa. Não fui ao advogado mas para cumulo tive que pagar o concerto do carro: não passei na passadeira, saí do meio dos carros sem olhar e amolguei o carro ao senhor. Justo, justo era pagar o conserto certo?
Mas voltemos aos casos de polícia. Ano e meio depois do meu acidente de carro, tinha conseguido arranjar um bom trabalho, um ordenado razoável e planeava casar, no ano seguinte em Maio! Tudo corria bem, a fase má tinha passado. Sentia-me de novo cheia de força e energia para encarar de novo esta vida difícil que nós gostamos de a complicar ainda mais. Empresa nova, grandes expectativas, investimentos lunáticos. É, passado pouco mais de um ano a situação estava difícil. Fui “dispensada”. Sorrisos e pancadinhas nas costas, “fica a amizade” e a dor de mais uma etapa falhada.
Uma semana depois de novo o pesadelo. Não havia dinheiro. Não pagavam a indemnização. “Não tínhamos combinado de mútuo acordo a sua saída?” Lá corri de novo para o advogado, lavada em lágrimas. Será que nada bate certo na minha vida, pensei eu, tantas e tantas vezes. Cartas para cima, telefonemas para baixo, desta vez recebi tudo direitinho. Não quis saber do coração, assinava os papéis quase sem ler. Queria tudo o que tinha direito. No fim, resolvido tudo, de novo aquela sensação de vazio. Noites sem dormir, dando voltas e voltas nos meandros do meu cérebro, tentando perceber onde errei? Mas que raio de sorte tinha eu? Porque é que tudo me acontecia a mim? Afinal que mal fiz eu ao mundo?
Depois uma época longa de felicidade, para alguns aparente. Mas passados uns anitos pimba, lá levei eu na cabeça outra vez. Só vos digo uma coisa, desconfiem sempre quando a coisa estiver a correr bem demais. A sério, párem para pensar se está mesmo tudo bem.
Por exemplo a minha mãe, e como é lógico, depois do acidente que eu tive, e que por acaso ela também se viu envolvida mas sem danos (Graças a Deus!), anda sempre comigo nas palmas da mão. Sempre aflita que me aconteça alguma coisa, que o mundo me desabe em cima, ou que me aconteça mais do que me tem acontecido. Eu sei que sim, que me vai acontecer muitas mais coisas, boas e más, mas já lhe disse: “Mãe, não te preocupes, não é tudo de uma vez só. É aos pouquinhos. Agora estou nesta fase má, ainda vai faltar muito para a próxima.”
Será? Ás vezes penso se não me ando a descuidar.
Agora encontro-me na fase do divórcio. Lá tive eu outra vez que recorrer ao advogado. Eu já sei, não era preciso mas que querem? Talvez até seja melhor assim. No fundo não é mais do que pedir a alguém que nos resolva um problema. E, como diria um amigo meu, “Quem pode, pode!” Daí que, lá está o advogado a tratar do divórcio, amigável, porque sim, nós somos pessoas civilizadas, e isto não custa nada, e é um instantinho, e vai tudo correr bem.
Digam lá, a minha vida não dava para fazer uma “comédiasita”? Uma coisa ligeira, eu sei, daquelas para se ver num Domingo à tarde, enroscados no sofá, deitarmos uma lágrima, mas rirmo-nos muito ao longo de todo o filme. Eu podia ser interpretada pela Cameron Diaz . Que acham? Era assim muito loira, só sorrisos mas muito trapalhona. Até parece que já me estou a ver na grande tela…. Ou então tipo uma super-heroi qualquer, como a “mulher elástica” dos The Incredibles….
Bem, vou mas é tratar de vida e preparar-me convenientemente para o meu novo desafio. Nunca se sabe o que vem aí agora, não é?

11 Comments:

Blogger Alentejano said...

A vida é feita de altos e baixos... Sofia para escrevesres esse post só pensaste nos baixos.. Senta ai e escreve sobre os altos... Vais ver que vão ser mais.

Beijinhos e bom fim de semana.

11:50 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

nunca rezes por cargas mais leves, mas por ombros mais fortes.

11:53 da manhã  
Blogger Rui said...

Aqui o pessimista sou eu, hein? Vamos lá a ver...

Vendes-me os direitos da história para um livo e argumento cinematográfico?

Beijo.

2:50 da tarde  
Blogger Fortunata Godinho said...

Ainda bem! Ainda bem, que a tua vida dava um filme - as nossas vidas davam um filme(!!!), porque é sinal que as vivemos. Há que sentir tudo, viver tudo. Como te disse o "Miguel" um bom amigo pode não te lavantar, mas fará tudo para não te deixar cair. Tu ÉS forte. Deus permita que te aconteçam muitos filmes - depois faremos um Cannes privado e ainda levas um prémio para casa...

2:44 da manhã  
Blogger Alberto Oliveira said...

... depois de tudo o que te tem acontecido na vida, revelas um grande espírito de batalhadora. Não é fácil sair de situações negativas e... repetidas.

A tua vida daria um filme, sim. Mas hoje escreveste de um modo bem mais solto, de tal modo, que quase me atrevia a dizer-te que o filme, poderia perfeitamente ser uma ... comédia; daquelas que tudo corre mal ao artista principal. Mas ele acaba sempre por sair por cima!
Parabéns, beijinhos e até daqui a dias... largos. Mas concerteza que volto!

5:10 da tarde  
Blogger Maria Liberdade said...

Lindinha, agora podia ser má e dizer-te que ainda bem que pessoas como tu existem. Ehehehe...

Desculpa, mas não resisti. Fica bem.

5:43 da tarde  
Blogger Vítor Vilar said...

Não há realmente muita coisa para se dizer face a tanto azar!! ...excepto: achas que o meu personagem pode entrar (p.ex. numa história paralela) interpretado assim por um gajo bom? Tipo Keanu ou o Brad?

Beijo e boa sorte...a lei kármica ia-te dizer uma coisa muito feia, por isso perfiro terminar assim! Beijos!!

6:43 da tarde  
Blogger Vítor Vilar said...

Para me explicar: a lei kármica diz muito resumidamente: "Age bem e tudo correrá bem, age mal e tudo correrá mal.". Acontece no entanto que a reacção nem sempre ocorre na mesma vida da acção, o mesmo será dizer amiga, que noutros tempos, noutros locais foram criadas as condições para as reacções que recebes hoje. Embora pareça injusto, no teu caso basta-te esperar pelo reflexo das boas acções que cometes, como por exemplo manifestares-te da forma como fazes neste blog que é ponto de encontro para tanta gente. Obrigado! Beijo.

9:55 da manhã  
Blogger Isa e Luis said...

olá, cheguei a tempo de dizer realmente tens que estar prevenida,e desconfiada. És um exemplo de mulher lutadora e corajosa.

Beijinhos muitos para ti

10:42 da manhã  
Blogger Sofia said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

6:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Um sábio é aquele que consegue rir dos problemas do dia-a-dia. Agora, um génio...??? Bom, um génio é aquele que sabe rir de si próprio..."

Dalai Lama


;)

10:58 da tarde  

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