sexta-feira, maio 12, 2006

A ultima viagem (Parte3)



Segunda, 20 Fevereiro/05

Depois de quase um dia inteiro em viagem, adoptando diferentes meios de transporte, segunda-feira estávamos completamente cansados. Ainda bem que estávamos de férias e que não tínhamos nenhum compromisso marcado com ninguém. Assim, dedicamos o dia para o descanso.

Depois do pequeno-almoço fomos descobrir uma pequena praia junto ao restaurante do hotel. A Praia de Santo António, é simplesmente deslumbrante. Fazendo uma pequena baia de mar verde, banha uma areia imensamente branca. Descemos as escadas até ao fundo da praia e não conseguíamos deixar de nos espantar com a beleza natural daquela praia. Foi chegar, estender a toalha e mergulhar imediatamente na água. O calor apertava e a areia tornava-se difícil de se calcar de tão quente que estava. A água era de facto o único local que se conseguia suportar. Uma água tão quente como eu nunca antes tinha visto. A parte da manha foi passada aqui e posso dizer que de facto estivemos um bom par de horas de molho.

Nessa tarde decidimos voltar à nossa Praia Café. E mais uma vez estivemos rodeados de crianças que nos pediam doces e que não nos largavam por nada. O nosso amigo João não estava, tinha ido com outros visitantes do ilhéu passear pela ilha. Marcamos um encontro com uma miúda que insistia que era sua prima, para o dia seguinte.

Pela noite, o hotel tinha-nos reservado uma surpresa muito agradável. Depois do jantar fomos presenteados com uma noite de danças e musicas típicas de S. Tomé, no Bar do Golfinho. A musica africana, no inicio estranha e bastante diferente para nós, rapidamente nos vai contagiando e acabamos por nos deixar envolver totalmente. Os artistas convidados demonstraram vários tipos de dança, uma delas e se calhar a mais típica, A Tragédia. O final foi uma musica super alegre e muito contagiante que pôs todos de pé a dançar.


Terça, 21 de Fevereiro/05

Depois de um dia de descanso era tempo de partir à descoberta de mais coisas sobre S.Tomé. Por isso, dedicamos este dia para fazer uma excursão pelo sul da ilha, a zona de Caué. É complicado descrever a viagem apenas com palavras. As paisagens de mato verde que nos envolvem em toda a viagem são fascinantes. As pequenas praias são de uma beleza extraordinária. Mas o calor ao longo de todo o percurso é sufocante e as estradas não nos esqueçamos que não são as melhores. É por isso um misto de completo deslumbramento e extremo cansaço.

Visitamos Porto Alegre e ficamos desiludidos. Uma antiga roça portuguesa a cair completamente aos pedaços. Já sem janelas e sem portas mas sobranceira ao mar. Com uma vista linda para o ilhéu das rolas ao fundo. À volta da roça, minúsculos casinhotos de madeira das poucas pessoas que ali vivem. Saúdam-nos à passagem, mas o cheiro é tão intenso a peixe podre e a dejectos humanos que nós nem nos atrevemos a descer do carro.

Meia volta rumo a S. João de Angolares passamos entretanto por uma exploração agrícola que pertence ao próprio resort do Pestana, onde estamos instalados. É nessa exploração que se cultiva a manga, abacaxi, laranja e todo o tipo de legumes que o restaurante do hotel necessita para as refeições. Foi aí que tomamos conhecimento pela única vez com a famosa cobra preta de S. Tomé da qual constam historias que a sua mordedura é fatal, uma vez que não existe um antídoto contra o seu poderoso veneno. Graças a deus esta já estava morta quando chegamos à quinta.

Daqui seguimos para visitar uma fabrica produtora de Óleo de Palma, produto típico e que já começa a ser conhecido da cultura gastronómica S. Tomense. Por fábrica entenda-se uma empresa de fabrico quase artesanal de óleo de palma. Todo o processo desde a recolha do fruto de palma até à sua passagem a pasta e posteriormente ao oleo final é feito nesta empresa através de uma maquinaria pesada velha e que funciona a vapor imagine-se. Um ponto de interesse historio sem duvida. Mas o que nos surpreende mais nesta empresa é quando o encarregado nos diz que a empresa trabalha dia sim dia não por falta de matéria-prima. Olhamos à volta, e durante uns 5 ou 10 km só encontramos como que um grande palmeiral, com uns largos milhares de arvores e ficamos na duvida pelos motivos da verdadeira falta de matéria-prima.

Depois seguimos para a ultima visita antes de almoço, a povoação de S. João de Angolares. Num total de cerca de 50 km tínhamos gasto quase 4 horas, num percurso fisicamente muito cansativo. Chegando à povoação fomos de imediato visitar a escola local. Ninguém parecia contar com esta visita, e as crianças, sem duvida o grande valor de S. Tomé, corriam ao nosso redor, felizes e sorridentes enquanto nos chamavam amigos e nos perguntavam o nome. O director da escola recebeu-nos alegremente e fez-nos uma visita guiada pelas salas de aula impecáveis e mostrando-nos também o recreio e cantina dos alunos. A escola tinha presentemente 400 alunos e todos os anos o numero aumentava. A cantina foi talvez o único local da escola que nos impressionou pela negativa. Um espaço com cerca de 3 m2, com um fogão a lenha, e dois enormes panelões de papa de milho.


Deixamos a criançada e o seu professor e dando uma vista rápida pelo centro da povoação seguimos para a Roça de S. João, onde iríamos almoçar. Esta roça esta completamente recuperada e tem uma pousada e um restaurante muito típicos e simpáticos. Pertence a João Carlos o famoso apresentador de televisão do programa “Na roça com os tachos”. Aqui podemos apreciar a própria beleza da roça, uma casa de construção portuguesa, bem recuperada, com 2 pisos, janelas em toda a volta, com uma vista fantástica para o mar lá em baixo. Ao fundo da roça podíamos ver as antigas instalações da roça que serviam de hospital e de creche para os trabalhadores da mesma. Este era o local ideal para se ler o romance do Miguel Sousa Tavares, pois aqui tem-se a noção perfeitamente realista das roças que ele tão bem nos descreve.

O almoço típico de S.Tomé iniciou-se com umas bolinhas de peixe seco e omelete de micócó, erva aromática famosa deste país. Depois uma moqueca de gambas e peixe seco excelentemente acompanhada com um arroz de ervas aromáticas como nunca comi. De sobremesa tivemos fruta da região: papaia e jaca. Terminamos a saborosa refeição com o café de S. Tomé e depois daquela refeição e com aquela temperatura só apetecia ficar mesmo por ali a descansar e aproveitar a beleza do local.

Após uma pequena sesta bem merecida retomamos caminho de volta à ponta da baleia. Ainda eram umas 4 horas da tarde mas nós estávamos exaustos. A excursão tinha sido excelente mas as condições em que tinha sido feita tinham-nos feito num oito. Ainda antes de chegarmos ao local de embarque fomos visitar a Roça de Ribeira Peixe. Uma roça simplesmente espectacular que fica junto ao mar e que não passa hoje em dia de uma velha aldeia com um numero imenso de habitantes que nos saúdam ao passar. Um local levou-nos ainda a conhecer a famosa cascata de Ribeira Peixe, onde era costume os turistas banharam-se. Nós estávamos mortos de cansaço e só queríamos uma coisa: o hotel.

Daqui à ponta da baleia foi um pulo. E a viagem de barco parece-nos ainda mais rápida. Nesse dia praticamente não fizemos mais nada. Foi descansar antes do jantar e depois do café, de volta ao quarto para descansar. Começávamos a dar razão ao s.tomenses: trabalhar com este clima é muito complicado. As simples deslocações a pé ou de carro deixam-nos extenuados. Era preciso recuperar forças pois ainda há muito para ver neste ilhéu.

15 Comments:

Blogger Alentejano said...

A cada história que escreves fico com mais vontade de ir a S. tomé.



ps. Estava mesmo a apanhar as conquilhas....

Jinhos , Bom fim de semana.

12:04 da tarde  
Blogger Rui said...

Há ainda muito que contar, então.
Bonito relato o teu Sofia.

12:35 da tarde  
Blogger Sea said...

Este teu relato está a ser delicioso. Continua! Continua!
Deixo-te um beijo :)

1:51 da tarde  
Blogger Ana P. said...

Bom, estive a ler sem parar, estes últimos posts. e a maneira como escreves, humm, deliciosa...

Beijos

2:41 da tarde  
Blogger claudia said...

Bom fim-de-semana,jokas:))diverte-te.

3:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Também conheci o João Carlos, ainda nem existia o programa. Ele e a mulher recebem os visitantes muito bem. Foste conhecer a galeria "dele"? Tem obras belíssimas, quase todas de jovens artistas.

8:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A praia café é mágica! tenho uma fotografia lindíssima, quando a encontrar publico-a. É para a troca!!

8:19 da tarde  
Blogger alice said...

querida sofia,

muito obrigada por mais este capítulo ;)

nem imaginas como me é útil... eu até trabalho no ramo e tudo...

desejo-te um bom fim de semana

um grande beijinho,

alice

10:02 da tarde  
Blogger SpiritMan aka BacardiMan said...

E eu que adoro pretas, e tu sabes, nunca te perdoarei por não me teres levado e... deixado lá!!!

Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos!

11:52 da tarde  
Blogger AlucarD said...

uau... estou sem palavras!!
k viagem..
beijos e bom fim-de-semana

12:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

“Um dia destes, numa conversa no «Manel da Leitaria», que só vende vinho, o senhor Tubarão disse-me que ‘Deus é um eterno mamilo intumescido’. Será que o senhor Manuel trocou o vinho nacional por vinho chinês? – Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

7:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

“Um dia destes, numa conversa no «Manel da Leitaria», que só vende vinho, o senhor Tubarão disse-me que ‘Deus é um eterno mamilo intumescido’. Será que o senhor Manuel trocou o vinho nacional por vinho chinês? – Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

8:01 da tarde  
Blogger Isa e Luis said...

A saga continua e já sonho com África.
Um beijo
Lusi

2:31 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

Ainda bem que regressaste ao relato da tua viagem que já é também um pouco minha, pelo modo como olhas os acontecimentos e os descreves a quem por aqui passa. Um autêntico dário de bordo na navegação virtual, este teu trabalho.

Beijos e um bom resto de domingo!

5:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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11:34 da tarde  

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