terça-feira, fevereiro 21, 2006

Gonçalo

Estou aqui deitada no quarto em silêncio à espera que o meu sobrinho nasça. O Gonçalo ainda não nasceu mas já é teimoso. O tempo de gestação já terminou à quase uma semana e ele não se decide a nascer. “Está no quentinho”, dirão vocês mas nem disso se trata. O Gonçalo está do outro lado do atlântico, em S. Paulo, onde nesta época do ano a temperatura média ronda os 30º e por isso nem do frio o miúdo se poderia queixar. Mas não, está decidido a não sair cá para fora e a fazer-nos a todos desesperar de ansiedade.
A cesariana está marcada para esta noite, pelas 20 horas, na Maternidade S. Luiz. E eu aqui, a 10 horas de distância por avião, sem poder partilhar com os pais esta ansiedade e alegria.
Já com o Bernardo foi assim. São as desvantagens de se viver afastado de quem amamos. Não conheço a sensação de ir à maternidade ver o sobrinho que nasceu à umas horas. Tentar reconhecer as parecenças imaginárias com a tia, o avô ou até uma prima afastada. Sentir o cheiro de um ser acabado de vir ao mundo, ouvir o seu choro envergonhado e sorrir com o seu primeiro sorriso, ou o seu primeiro arrotinho, ou o seu primeiro cocó.
A minha vida tem sido maluca. Todos os dias aprendo e reaprendo novos sentimentos. A minha vida pula e avança a uma velocidade louca. O tempo passa a correr e quase nem tenho tempo para me habituar às novas expressões da minha vida. Mal consegui ainda recuperar o fôlego destas ultimas semanas. E no entanto, neste preciso momento olho para o relógio e o tempo não passa. E o Gonçalo não nasce. Olho para o telemóvel mais uma vez para me certificar de que está ligado, de que tem rede, de que não é por falha tecnológica a falta de notícias.
Há dois anos quando fui conhecer o Bernardo, o meu afilhado querido, tinha ele apenas 2 meses. Era tão pequenino que se perdia no berço. Quando o vi pela primeira vez apeteceu-me chorar, não só de alegria mas também de saudade, desta separação forçada a que a vida nos obriga. Penso nele e esforço-me por não chorar. Saber que perdi o seu primeiro passo, as suas primeiras palavras provoca-me um aperto no peito. Se fechar os olhos recordo as suas brincadeiras frenéticas, o seu sorriso contagiante, a sua teimosia.
A minha vida passou a ser um livro de recordações. Estou a viver de recordações. Recordo a minha família, aquilo que tive um dia. Recordo o meu sobrinho e tento-me lembrar ainda da cor dos seus olhos. Recordo o meu irmão e o seu amor incondicional mas discreto. Recordo a minha cunhada, a sua vida e agitação…
E o Gonçalo, que não nasce!? Agora vejo, que não tenho recordações do Gonçalo. Esta insegurança, esta ansiedade, este nó na garganta que me impede até de falar. Por um miúdo de quem nem sequer tenho recordações. Estranho não é?
Mas lembro-me agora que já o vi. Tenho a foto de uma ecografia. Vejo o seu nariz arrebitado, o seu queixo redondinho e o perfil dos seus lábios. Quando o verei ao vivo? Quando o poderei colocar nos braços e sentir o seu calor, o seu cheiro. Sabem do que falo? Do cheiro de uma criança? O aroma leve de uma pele fina e suave. Um perfume indescritível de tão puro e frágil que é.
Devo ter adormecido, são 1:05 da manhã e o meu irmão acaba de ligar. O Gonçalo já nasceu e está tudo bem. Custou mas lá saiu e a minha família cresceu mais uma vez. Ele é teimoso mas os médicos foram mais e acabou por nascer de parto normal. Sou dupla tia, estou duplamente contente e sou duplamente babada. Não me levem a mal mais este desabafo, mas ser tia é uma alegria incomensurável.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Parte de Mim

Onde estás? Procuro o teu rosto na noite e não o encontro. Aguardo em silêncio paciente um sinal teu. Fechos os olhos e revejo-te. O teu cheiro, o toque na tua pele, tão macia, tão suave, tão quente. Parece que ainda sinto os teus lábios procurando os meus com essa avidez que só em ti conheci. E depois a tua mão que me percorre o corpo, que tanto me dá prazer, que tanto me lembra como ainda estou viva. Recordo os beijos, tão sentidos, tão intensos. Onde estás? Sinto-me perdida e sozinha quando não estás. Sabes, tu fazes parte de mim!



“Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres
Assim
Meu corpo é o teu mundo,
Um beijo um segundo
És parte de mim.

Para onde olhares
Eu corro,
Se me faltares
Eu morro
Quando vieres,
Distante
Solto as amarras,
E tocam guitarras por ti
Como dantes.

Agarra-me esta noite,
Sente o tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanha não estou aqui,
Agarra-me esta noite,
Sente o tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanha não estou aqui.”

Parte de Mim, Pedro Abrunhosa

terça-feira, fevereiro 07, 2006

....como até gosto de correntes, aqui vai Silvia e companhia.....

Hábitos estranhos???? Eu????? Naaaaaaaa…….

Poderia começar assim mas a verdade é que me puseram mesmo a pensar. E a minha primeira reacção foi “eu não tenho hábitos estranhos, tenho hábitos mas estranhos? Não!” Mas depois lá me convenceram de que não se tratava de verdadeiros “Pecados Mortais” mas sim de hábitos simples que muitas vezes nem nos apercebemos do quanto são estranhos.
Sendo assim, aqui vão os meus 5 hábitos mortais, estranhos, queria dizer (!):
1- Tenho o estranho hábito de só colocar as lentes de contacto quando chego à empresa para trabalhar e num espelho minúsculo, onde nunca sei onde o colocar e sobre o qual me dobro pateticamente para as conseguir pôr. Em casa, coloca-las simplesmente em frente ao espelho da casa de banho não me parece bem. Assim atrevo-me a ouvir comentários como no outro dia “parece que está a snifar”!
2- Também considero como estranho o hábito de nunca comer de manha mal acordo. Não consigo, a sério! Parece que tenho o estômago todo embrulhado, os cheiros enjoam-me (e não estou grávida!!), os líquidos ficam a dançar no estômago e os sólidos não passam na garganta. Estranho não?
3- Tenho o péssimo hábito de falar, falar, falar, sem nunca parar, quase sem respirar. É muito mau hábito, e quase inconsciente. Só me apercebo dele quando noto finalmente que as pessoas me olham a sorrir, de forma estranha também e vão abanando a cabeça. Sim porque eu nem sim ou não lhes dou hipóteses. Meu Deus, que feio hábito! Não imaginam o esforço que faço por me manter calada e ouvir as minhas amigas contar qualquer coisa. É que tenho sempre alguma coisa a acrescentar ou comentar. É horrível acreditem!
4- Este é salutar. Pelo menos para mim! Tenho que ouvir a música de que gosto aos berros, literalmente. E tenho que saber as letras para poder acompanhar. Senão acho que não é musica, não a vivo, não a consigo sentir e ouvir. É uma loucura eu sei. Agora imaginem a minha figurinha no carro, musica aos berros, e a cantar desafinadamente, sozinha lá dentro. Há quem me ache louca!
5- E este que levei anos até o assumir. Patético eu sei mas….. Bom, tenho o hábito de arrumar as roupas no armário por cores. Isso mesmo, brancos com brancos, pretos com pretos, depois os azuis, os castanhos, os rosas. Enfim, tudo muito organizadinho para que de manha seja só pegar e andar. Não acham estranho? Pois mas há quem se ria de mim por causa disto!

E é só. Ou melhor, agora que comecei acho que me lembro de muitos outros. Para quem começou por dizer que não tinha nenhuns….. é estranho não é?

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Orgulho e Preconceito!

Hoje fui ao cinema ver o filme “Orgulho e preconceito.” Que vos posso dizer? Que adorei, sim, que é a minha cara, sim, que me apeteceu chorar no fim e gritar “como amor é lindooooooo!” Acima de tudo preciso de vos dizer o que o filme, hoje, me fez descobrir. A sério, imaginem com esta idade e ainda a descobrir destas coisas.
Eu sempre me achei uma irreversível romântica. Desde miúda, muitos sonhos tinha, muitos filmes imaginava na minha cabecinha, e todos eles puramente românticos. Sonhava com amores proibidos, paixões impossíveis, amores distantes mas que no fim acabavam irremediavelmente por se concretizar. Por mais obstáculos que houvesse o amor vencia tudo e os finais eram sempre hollywoodescos.
Só hoje percebi o porquê da minha desadequação a este mundo, ao de hoje. Hoje é-se impossivelmente romântica, se me permitem a expressão. Não há tempo, nem lugar, nem ambiente, nem contexto para isso. Daí a minha total inadequação a esta época.
Eu devia ter nascido há muitos anos atrás, sem dúvida! Hoje percebi isso e a quão desiludida fiquei por perceber afinal que não há actualmente ambiente para o meu romantismo.
Senão vejamos.
Naquele tempo as famílias eram enormes, existiam muitos irmãos, todos seguidinhos, todos unidos. Vivia-se num mundo mais ruralizado, numa época em que ainda existiam esplendorosas florestas, ar puro e águas límpidas.
As mulheres não saíam de casa para ter uma profissão. Eram criadas em casa, aprendiam a ler e escrever em casa, tocavam piano, bordavam, geriam o lar. Tinham tempo para ler, para escrever, passearam ao ar livre. Vestiam longos vestidos, com muitas fitas e laços. Eram loiras ou morenas mas sempre de caracóis e de olhos brilhantes. Tinham tempo para sonhar. E sonhavam. Com um marido ideal, o rapaz mais bonito, o mais inteligente ou o mais arisco.
E os homens, esses sim trabalhavam, mas também escreviam poemas, andavam a cavalo, iam à caça e visitavam as mulheres no lar. Apareciam para um chá, um passeio no jardim, uma tarde de leitura..... Belos tempos, digo eu!
Hoje, e como devem já ter percebido, tudo isto é impossível e, dirão alguns, até ridículo. Hoje as famílias têm no máximo 2 filhos e a maioria não passa mesmo da unidade. A situação económica e social dita cada vez mais famílias pequenas e mais fáceis de se gerir.
Depois, hoje em dia todos vivemos no meio urbano. Cidades maiores ou mais pequenas mas definitivamente urbanizadas. Não há grandes espaços verdes, o espaço era preciso para se construir. Construir casas e ruas, fabricas e centros de diversão. O espaço verde estava a mais e teve que se ir afastando. Actualmente é assim, as florestas estão bem longe, cada vez mais longe de nós.
Mas a diferença principal é a de que hoje as mulheres não tocam piano, a maioria não sabe bordar, e outras tantas são péssimas donas de casa. Para se afirmarem e conseguirem ter uma vida melhor, tiveram que estudar e escolher uma profissão. São médicas, advogadas, professoras e empresárias. Outras operárias ou mulheres de limpeza. Existem mulheres taxistas ou operadoras de máquinas. Hoje poucas mulheres estão em casa e passam cada vez menos tempo dentro delas. Hoje não têm tempo para lerem, escreverem ou sonharem com o príncipe encantado. Vestem jeans de ganga e camisas brancas e casacos compridos. Usam o cabelo pintado, curto e liso.
E depois temos os homens. Já não há Mr.(s) Darcy (is) hoje em dia. Homens íntegros, honestos, verdadeiros gentlemen’s, capazes de mudar o mundo por nós. Sofredores mas persistentes. Incrivelmente românticos e charmosos. Hoje já não aparecem do nada só para nos ver. Mandam sms’s curtas a convidar para um café ou telefonam para saber o que nos apetece fazer.
Não à clima! Definitivamente hoje é impossível ser-se romântico. Perdeu-se um cem número de coisas essências. Não à clima, nem tempo, nem vontade. O mundo acabou para os românticos como eu. Por isso me sinto desintegrada, não entendo aos meus amigos, não aprecio as suas saídas, os seus gostos, os seus desejos. Restam-me os meus livros, pateticamente românticos para muitos; os meus filmes, que me levam de volta à minha época; e as minhas músicas que me fazem sorrir, e também chorar e fundamentalmente sonhar.
Sou uma romântica, que querem? Deixem-me pelo menos desabafar!
Orgulho e preconceito, hoje seria mais, Falta de jeito ou oportunidade!


(ironia do destino, meia hora depois de acabar de escrever o post o meu casamento acabou!)