quarta-feira, março 29, 2006

Pensamento do dia!

Desculpem lá mas nao resisti a colocar-vos aqui o pensamento do dia que a minha amiga Su me enviou. É uma delicia.....

"AMO A LIBERDADE,
POR ISSO, DEIXO LIVRES AQUELES QUE AMO,
SE VOLTAREM É PORQUE OS CONQUISTEI,
SE NÃO VOLTAREM, É PORQUE NUNCA OS TIVE!"


Beijinhos a todos.

sexta-feira, março 24, 2006

Filme!

A minha vida dava um filme!
Nunca ninguém vos disse isto? Se não, digo-vos eu. A sério, a minha vida dava um filme. Começo por uma característica engraçada, normalmente de 2 em 2 anos recorro a um advogado. Pois é, devo ser das clientes mais assíduas, acho até que já me trata como se fosse da família.
Quando me preparava para fazer 25 anos, um quarto de século de vida, merecedor de uma bela comemoração, pimba, tenho um acidente de carro gravíssimo que me prendeu a uma cama durante meses. Um dente partido, uma perna destroçada, uma operação de 6 horas, dois meses de gesso, 9 de fisioterapia, e eu fiquei quase boa. Cheia de mazelas, cicatrizes, dores de alma mas pronta para recomeçar a viver.
Logo aí tive problemas! Apuramento de responsabilidades, culpas, razões para o acidente, companhias de seguro…. e eu a ver a minha vida a andar para trás. Lá fui eu a correr ao advogado. Consulta após consulta descobri direitos que nem sequer podia imaginar. Danos morais e patrimoniais, indemnizações para cima, percentagens para baixo. Uns meses depois lá chegamos a acordo sem termos que recorrer aos tribunais. Confesso que me venceram pelo cansaço: Um ano quase inteirinho em casa; Tinha perdido o emprego, porque um mês antes do acidente me tinha despedido para ir para um novo trabalho; A viver de novo à custa dos papás; confesso que queria receber a indemnização a todo o custo. Precisava dela para recomeçar a viver. Planear a vida. Colocar de novo pedra sobre pedra.
Mas este não foi o único acidente que tive, de facto até foi o segundo. O primeiro tinha eu 13 anos de vida. Saí de casa para o liceu, tinham uns amigos meus ido buscar-me para as aulas da tarde. Primeira rua, tudo ok, risos e conversas animadas. Quando chego à segunda já não passei. Atravessei sem olhar e pimba, fui atropelada por um automóvel. Um olho negro, um traumatismo craniano, um mês em casa. Não fui ao advogado mas para cumulo tive que pagar o concerto do carro: não passei na passadeira, saí do meio dos carros sem olhar e amolguei o carro ao senhor. Justo, justo era pagar o conserto certo?
Mas voltemos aos casos de polícia. Ano e meio depois do meu acidente de carro, tinha conseguido arranjar um bom trabalho, um ordenado razoável e planeava casar, no ano seguinte em Maio! Tudo corria bem, a fase má tinha passado. Sentia-me de novo cheia de força e energia para encarar de novo esta vida difícil que nós gostamos de a complicar ainda mais. Empresa nova, grandes expectativas, investimentos lunáticos. É, passado pouco mais de um ano a situação estava difícil. Fui “dispensada”. Sorrisos e pancadinhas nas costas, “fica a amizade” e a dor de mais uma etapa falhada.
Uma semana depois de novo o pesadelo. Não havia dinheiro. Não pagavam a indemnização. “Não tínhamos combinado de mútuo acordo a sua saída?” Lá corri de novo para o advogado, lavada em lágrimas. Será que nada bate certo na minha vida, pensei eu, tantas e tantas vezes. Cartas para cima, telefonemas para baixo, desta vez recebi tudo direitinho. Não quis saber do coração, assinava os papéis quase sem ler. Queria tudo o que tinha direito. No fim, resolvido tudo, de novo aquela sensação de vazio. Noites sem dormir, dando voltas e voltas nos meandros do meu cérebro, tentando perceber onde errei? Mas que raio de sorte tinha eu? Porque é que tudo me acontecia a mim? Afinal que mal fiz eu ao mundo?
Depois uma época longa de felicidade, para alguns aparente. Mas passados uns anitos pimba, lá levei eu na cabeça outra vez. Só vos digo uma coisa, desconfiem sempre quando a coisa estiver a correr bem demais. A sério, párem para pensar se está mesmo tudo bem.
Por exemplo a minha mãe, e como é lógico, depois do acidente que eu tive, e que por acaso ela também se viu envolvida mas sem danos (Graças a Deus!), anda sempre comigo nas palmas da mão. Sempre aflita que me aconteça alguma coisa, que o mundo me desabe em cima, ou que me aconteça mais do que me tem acontecido. Eu sei que sim, que me vai acontecer muitas mais coisas, boas e más, mas já lhe disse: “Mãe, não te preocupes, não é tudo de uma vez só. É aos pouquinhos. Agora estou nesta fase má, ainda vai faltar muito para a próxima.”
Será? Ás vezes penso se não me ando a descuidar.
Agora encontro-me na fase do divórcio. Lá tive eu outra vez que recorrer ao advogado. Eu já sei, não era preciso mas que querem? Talvez até seja melhor assim. No fundo não é mais do que pedir a alguém que nos resolva um problema. E, como diria um amigo meu, “Quem pode, pode!” Daí que, lá está o advogado a tratar do divórcio, amigável, porque sim, nós somos pessoas civilizadas, e isto não custa nada, e é um instantinho, e vai tudo correr bem.
Digam lá, a minha vida não dava para fazer uma “comédiasita”? Uma coisa ligeira, eu sei, daquelas para se ver num Domingo à tarde, enroscados no sofá, deitarmos uma lágrima, mas rirmo-nos muito ao longo de todo o filme. Eu podia ser interpretada pela Cameron Diaz . Que acham? Era assim muito loira, só sorrisos mas muito trapalhona. Até parece que já me estou a ver na grande tela…. Ou então tipo uma super-heroi qualquer, como a “mulher elástica” dos The Incredibles….
Bem, vou mas é tratar de vida e preparar-me convenientemente para o meu novo desafio. Nunca se sabe o que vem aí agora, não é?

terça-feira, março 21, 2006

A depressão de Domingo à noite!!!!

Que lhe posso chamar senão depressão de domingo à noite???
Todos os domingos, chegando a hora do entardecer, sou invadida por este sentimento de frustração. Revejo a semana que passou, os êxitos e/ou fracassos que alcancei e não me consigo animar. O final do ”fim-de-semana” traz-me sempre angustia, frustração e um início de ansiedade, à qual não sei atribuir uma razão plausível. Nem é pelo início de mais uma semana de trabalho. Este, pelo menos, tem o dom de manter a minha cabeça ocupada e de não me fazer pensar na minha vida.
Puta de vida” diria alguém! Não é, na verdade uma vida angustiante nem tão pesada como estou provavelmente a tentar demonstrar. Eu sei bem disso. Mas então porquê este sentimento estranho, este aperto no peito, esta sensação de perda?
Ninguém é preparado para as diversas mudanças que ocorrem na nossa vida. Lembro-me da minha passagem de criança para adolescente e dos conflitos interiores e traumas que isso me suscitou. É o despertar para novas realidades, o reconhecer as diferenças de sexo, notar as mudanças do nosso corpo, algumas dolorosas e não aceitar de todo isso como um dado positivo. Ainda me lembro da minha primeira menstruação. Grande trauma! Qual era afinal a piada de todos os meses sangrar como uma alma penada, apenas para o bem da continuação da humanidade? E porque é que tinha logo que ser a nós, as mulheres, desgraçadinhas, a quem tudo acontece? Já não nos bastava crescer o peito de uma forma humilhante, primeiro parecendo uns papos, depois completamente desproporcionados?
Depois a passagem para a idade adulta. Outro grande trauma! Reconhecer que já temos idade de tratar de vida e nos fazermos alguém. O lento cortar do cordão umbilical com os pais, o reconhecimento da inconstância das paixões, da dureza do trabalho rotineiro, dia após dia. Reconhecermos o tempo inútil que perdemos com os traumas da adolescência. Sentir o tempo que perdemos com problemas insignificantes. Apercebemo-nos da fugacidade do tempo e olharmos para o futuro cada vez mais passado.
Mas talvez para todas estas mudanças de vida fomos de alguma forma preparados pelos pais, avós e até amigos. Estes vão-nos socializando para estas alterações de vida, para as mudanças no nosso percurso e ajudam-nos muitas vezes a superá-los. Mas nem para todas as mudanças. Algumas nem nós próprios sabemos ou aprendemos a lidar.
A mim nunca ninguém me preparou para a minha separação. Ninguém me falou que podia acontecer, ninguém me explicou como se faz, como se ultrapassa, o que se tem que fazer, o que não se deve fazer. Eu sei, é aquela velha questão de que ninguém também nos prepara para a morte. Nós sabemos que ela existe mas nunca estamos preparados para a enfrentarmos. Não que separação seja sinónimo de morte, pelo contrario, quero acreditar que é sinonimo de vida nova, de uma nova oportunidade, de refazermos uma vida, evitando cair nos mesmos erros do passado. Mas a verdade é que tudo isto é muito duro. O apagar uma vida para desenhar uma outra é duro.
Comigo depois do choque inicial, o problema pôs-se no Como e Quando. Os Porquês esses deixam rapidamente de ter importância. Quando não os encontramos ou não os queremos simplesmente reconhecer colocamo-los rapidamente de lado. O problema depois é construir a separação. Levanta-la, pô-la de pé, desenrola-la. Começamos por onde? Fazemos o que? O que está permitido fazer? O que é terminantemente proibido? Onde colocamos os sentimentos? O que esperamos dos outros? O que fazemos com os bens materiais? E os sentimentais? E os medos e traumas? E as alegrias?
E porque é que estes traumas me assolam sempre no final de Domingo? Que tem ele de tão especial?
Alguém me disse que devia ver o final de domingo como um dia a menos para a chegada de um novo fim-de-semana. E eu vejo-o sempre como menos um dia de vida, mais um dia passado sem ti, mais um objectivo deixado de cumprir, mais um pedaço de tempo que deixei escapar. E depois não posso deixar de me sentir angustiada e triste.
E por isso detesto os Domingos à noite!

quinta-feira, março 16, 2006

Fragmentos (Final)

Quando era ainda criança, talvez com os nove ou dez anos, achava que era uma pessoa especial e que tinha um Dom. Tudo porque conseguia-me lembrar da fisionomia de certas pessoas com as quais só tinha estado uma única vez na vida e há vários anos atrás. E apesar de momentaneamente me poder esquecer do seu nome, tinha a certeza de que essa pessoa já tinha passado pela minha vida. Para além disso, acontecia-me muitas vezes passar por certos acontecimentos que acreditava já ter vivido algures noutra época ou, quem sabe, até noutra vida. Aprendi mais tarde que a isso se dava o nome de “dejá vu” palavra francesa que traduz exactamente isso, acontecimento “já visto”.
Havia alturas em que quase jurava que aquilo que se estava a passar comigo, já me tinha acontecido no passado e olhava divertida a sucessão dos factos, comentando comigo mesma “Eu não te disse? Eu sabia que era assim que isto se ia passar!”
Foram precisos alguns anos para voltar a sentir aquela mesma sensação. Não que acreditasse agora que tinha de facto um qualquer Dom. Isso sabia eu, já algum tempo, que todos nós o temos, apesar de só alguns se aperceberem disso. Mas aquela velha sensação do “dejá vu” como reconhecer certas fisionomias ou lembrar de certas passagens, que jurava terem sido já parte da minha vida, tinha voltado novamente.
A única diferença dessa familiar sensação era que desta vez não vinha sozinha, e trazia consigo uma nova sensação, a da duvida angustiante. Perguntava-me se seria Deus que generosamente, ou por brincadeira, me colocava de novo perante o meu destino para que eu ou fugisse dele, ou cometesse de novo os mesmos erros.
Apercebia-me agora que desde a minha meninice até hoje, tinha vivido desligada de mim própria. E o facto de hoje me conseguir ouvir de novo, fazia-me sentir muito bem. E permitiu-me passar de novo a sentir e ver aquelas coisas que normalmente todos nós não conseguimos, por andarmos completamente alheados do mundo.
Tal e qual como uma criança que fica maravilhada quando toma conhecimento pela primeira vez de que somos seres pensantes e de que podemos falar connosco sobre tudo, divagar e aprender, assim me sentia eu. Maravilhada pela visão que novamente tinha de mim e que permitia de novo conhecer-me totalmente. “Conhecer-me como às próprias mãos” era se calhar a expressão que melhor se podia adequar ao meu novo estado de alma.
Tinha ouvido muitas vezes os meus pais comentarem entre eles ou com outros familiares, como eu tinha brincadeiras engraçadas durante a minha infância. Tudo porque conseguia ficar horas a falar sozinha (pensavam eles!) ou com um amigo imaginário, sobre todos os assuntos que me viessem à cabeça. Normalmente isto acontecia-me sempre que tínhamos que fazer uma viagem mais longa, para o local das férias ou até para a aldeia dos meus avós.
Penso agora que devem ter sido os sorrisos discretos com que via as pessoas reagirem a esta revelação, ou pelas consentidas festas na cabeça que todos insistiam em me fazer, que comecei a ficar incomodada e até envergonhada com este meu bizarro habito.
Com o passar dos anos, e depois de várias tentativas falhadas, consegui por fim controlar esse meu lado mais excêntrico e sonhador, e acabar definitivamente com essa “má” atitude.
Talvez só neste momento me conseguisse aperceber o porquê de em criança sempre ter falado muito comigo mesma. Esse hábito salutar de constantemente me interrogar sobre as pequenas coisas do meu mundo e de pôr tudo em causa, faziam-me compreender completamente a minha forma de viver e isso deixava-me sentir mais satisfeita e confiante na minha pessoa.
O meu erro tinha então exclusivamente residido no facto de apesar de esta ser uma atitude positiva, o fazer da forma mais bizarra que conhecia, que era falar em voz alta com os meus “amigos” imaginários, chocando todos os que então viviam à minha volta.
Felizmente agora tinha conseguido de novo reencontrar-me, e fazia-o de uma forma bem mais salutar e diferente. E digo felizmente sobretudo porque se com esta idade me pusesse a falar alto, sozinha, me poderiam considerar louca e corria o risco de mais uma vez me passaram condescendentemente a mão pela cabeça e me internarem num qualquer estabelecimento psiquiátrico.
Tinha começado a escrever! A forma como resolvi a questão da sanidade mental era a escrita. Passei a escrever sobre tudo e sobre nada, e fundamentalmente sobre o que me ia passando pela cabeça. Considero psiquicamente fundamental conseguirmo-nos ouvir interiormente e falarmos abertamente sobre tudo o que nos inquieta. E é muito benéfico quando finalmente o conseguimos passar para o papel. As inquietações parece que acalmam e conseguimos começar a vislumbrar diferentes perspectivas sobre o assunto. Ficamos mais calmos. E decididamente mais seguros de nós.
Por vezes acontece-me ter uma espécie de, e desculpem-me o termo, “vomito mental”. Nessas alturas pego numa caneta e descarrego uma imensidão de letras e palavras a uma velocidade quase infernal, no primeiro papel que me aparecer à frente. E por isso o faço de papel e caneta porque a velocidade das minhas mãos a bater num teclado de um computador ainda não conseguem ser suficientemente rápidas para acompanhar a velocidade dos meus pensamentos.
Só no fim, ao reler com calma tudo aquilo que a minha mente me ditou, consigo descobrir e aprender. E maravilhar-me com as coisas de que nós somos capazes de saber, sem saber que o sabemos.
Aprendi o hábito de escrever. Textos soltos, cartas, versos ou até frases sem sentido. Aos poucos fui-me reencontrando. E ao fim de um bom par de anos descobri a razão por tal me ter sucedido novamente. Sentia-me feliz! Tal como tinha sido durante toda a minha infância, até ao momento de passar a ter medo de mim e do que os outros pudessem pensar de mim.
A minha inocente felicidade de criança tinha-me dado a liberdade de sonhar e aprender em mim o que via a minha volta. Daí já nessa altura ter descoberto que tinha um Dom, e achar-me uma pessoa especial.
Pensando bem, nos anos que se seguiram não fiz mais do que tentar manter todos os meus erros e fraquezas bem longe de mim. Tentava envergonhada disfarçar as minhas fraquezas e negava os meus erros como se daí dependesse a minha própria existência. Percebo agora que foi essa luta feroz para me assemelhar com aquilo que achava que os outros queriam de mim, que acabou por me manter afastada daquilo que era. E em consequência disso, afastada da minha própria felicidade.
Acredito que a felicidade não é una, que não existe uma só felicidade, ou forma de ser feliz. Cada pessoa tem uma, apenas a terá que construir. À sua maneira, da sua forma.
Todas as recriminações que estupidamente fiz a mim mesma durante os últimos anos não me tinham deixado viver plenamente e só me tinham causado ainda mais sofrimento.
Mas mais uma vez digo que acredito que tudo isto me aconteceu, todo este tortuoso caminho, para que pudesse aprender a respeitar e aceitar-me como sou. A encarar os meus defeitos apenas como defeitos, e as virtudes, apenas como virtudes. Sem tentar arranjar alguma explicação ou solução para tudo. E se a vida me colocava de novo as mesmas situações, teria que as enfrentar de novo e cometer de novo os mesmos erros, se isso tivesse que ser. Não podia era de novo esquecer-me de mim, pensar pelos outros ou não viver só com o medo de errar.
Acho que finalmente consegui deixar de lamentar todos os erros do passado e até aprender com eles. Aprendi sobretudo a perdoar-me. E só assim consegui de novo ser feliz.
Estou certa disso agora e só por isso, por ter feito essa maravilhosa descoberta, me senti pronta para voltar.
E foi o que inevitavelmente acabei por fazer.


(esta foi a historia da Rita. A todos os que comentaram agradeço as palavras de apoio. Sintam o meu beijo e abraço em cada um de vós!)

sexta-feira, março 10, 2006

Fragmentos II

Tínhamos chegado da praia já tarde. O sol teimava em não se ir deitar e nós continuávamos a tenta-lo a ficar entre nós. Eram oito da noite quando decidimos finalmente abandonar a areia já morna. Chegamos a casa verdadeiramente estafados. Os miúdos estavam esfomeados e foi um dia de juízo convencê-los a tomar banho antes de irem para a mesa. O jantar ia ser simples. O dia tinha sido longo demais para grandes comidas. Alem do mais, pouco depois adormeceríamos pelo sofá e não era bom dormir de estômago cheio, pois dizem os antigos que provoca pesadelos. E isso era a coisa que menos precisava nesse momento. A minha vida tinha-se tornado ela mesmo num grande pesadelo.
Acabei o duche e vesti as calças do meu fato de treino e uma t-shirt branca de mangas. Enquanto me vestia veio-me á memória as férias na minha infância. De repente vi-me nas ferias de verão com os meus pais, num parque de campismo perdido por aí, pelo meu país. Passávamos o dia ao ar livre. Corria por montes e vales respirando um ar fresco e puro como só as montanhas nos sabem dar. Não havia mar ou areia, bolas ou raquetes, ou ainda pranchas de surf, como têm hoje em dia os meus filhos. Mas tinha um simples riacho onde me refrescava ao fim da tarde. O meu pai utilizava-o para outros fins. Pescava trutas “á linha” que a minha mãe confeccionava como ninguém, numa caldeirada perfumada de coentros e salsa.
Invadiu-me uma súbita e forte melancolia ao vestir aquelas calças de fato de treino. Á noite no campismo depois do banho nos lavabos públicos, vestíamos os nossos fatos de treino quentinhos, que só despíamos já dentro das tendas para nos enfiarmos nos nossos sacos-cama. Cada um tinha o seu e era facilmente reconhecível porque a minha avó tinha gravado em cada um deles a primeira letra do nosso nome, um R, um B e um J.
Fechei os olhos e estava lá. A minha mãe ajudava-me a vestir as calças do meu fato de treino azul, com duas riscas brancas fininhas na horizontal, ao longo da perna. Depois pacientemente me escovava o cabelo, que de tanto vento, sol e agua se irriçava completamente depois do banho. Sentia ainda a frescura na cara do creme Nívea que a minha mãe me espalhava cuidadosamente nas bochechas queimadas do sol. E também no nariz e na testa onde todos os anos insistiam em me aparecer inúmeras sardas. Sentia o cheiro da terra empoeirada, das pinhas acabadas de cair, da caruma que eu sempre juntava em montinhos para preparar as camas das minhas bonecas ou para lhes servir de refeição.
Abri os olhos. Que estranhas sensações nos podiam trazer uma simples peça de roupa. Quase que podia jurar que ouvira o meu pai ralhar comigo para eu comer o meu jantar sossegada....
Estas eram as primeiras ferias a sós com os meus filhos e viriam a ser também as ultimas. De uma forma racional, o Jorge tinha acabado por me deixar. E eu acho que com toda a razão. O meu marido lidou com a situação muito maduramente, mais do que se calhar eu estava a contar. Sem fazer escândalos, sem se exaltar. Apenas com uma profunda magoa e tristeza que eu consegui sentir por detrás dos seus olhos frios enquanto me comunicava a sua intenção de me deixar. Explicou claramente o que pensava fazer da sua vida e dos seus filhos daí para a frente. A casa podia ser para mim. Os filhos viria busca-los mais tarde. Apenas o tempo necessário para se instalar de novo e refazer as suas vidas. Não queria sequer discutir o facto de eu querer ficar com eles. Perguntou-me se eu tinha consciência do mal que lhes tinha feito e se ainda tinha coragem de pedir para ficar com eles.
- Somos ambos advogados Rita, e tu sabes bem as provas e testemunhas que tenho que me permitem ficar com a guarda dos nossos filhos. Peço-te que não entres em litígio por causa disso. Poupa-os a mais essa humilhação. Jamais esquecerão o que lhes fizeste.
Tal como diz aquela canção, as palavras por vezes doem mais, e para mim aquelas doeram mais do que qualquer agressão física que o Jorge me pudesse ter disferido.
Não conseguia sentir esse sofrimento nos meus filhos, ou talvez não o quisesse sentir. Os miúdos apenas queriam saber porque o pai não queria viver mais comigo. E eu envergonhada, ficava de lagrimas nos olhos, incapaz de os enfrentar e encolhendo os ombros dizendo que ele apenas não me amava mais. O que nem eu sabia se era completamente verdade.
O Jorge tinha-se mudado para o Porto definitivamente e teve o cuidado de me avisar que os miúdos iriam já em Setembro para casa dele e que tinha feito já as matriculas num colégio privado da cidade. Lembro-me da barafunda q fiz, dos gritos de injustiça que dei. Eu como mãe também queria intervir na educação dos meus filhos. Mas tal como vinha a acontecer já há muito tempo, o meu ex-marido foi ignorando todo e qualquer argumento que eu ia expondo e virando as costas bufou: “Sempre tens as férias, aproveita-as bem!”
Que vos posso dizer sobre o que aconteceu? Não sei. Passou-se muita coisa, e muitas delas ainda hoje o meu consciente tenta esconder-me. Lembro-me de ter encontrado uma ultima vez com o Victor. Lembro-me de ele me confessar que era casado, que tinha uma filha de 4 anos, que gostava da vida que tinha e que não sabia o que lhe tinha passado pela cabeça quando me conheceu. A certa altura parecia que me culpava de alguma forma pelo que tinha acontecido. Disse “Foi tudo tão rápido, davamo-nos tão bem, que parecia tudo normal, percebes Rita? Quantas vezes as palavras se aglomeravam na minha garganta prontas a contar-te tudo sobre a minha vida, mas sempre acontecia alguma coisa que as fazia recuar.” Pois lembro-me bem o que as fazia recuar. Devia com certeza ser também isso que o fazia avançar sobre mim com beijos e mimos, fazendo-me sonhar com o meu príncipe encantado de infância. Pois foi isso mesmo. Parece que tinha caído no conto do vigário, pelo menos foi isso o que senti. E era o que me diziam á minha volta. “Deixaste-te levar pelo lobo mau!”
A minha relação extraconjugal com o Victor durou cerca de um ano. O ano da minha vida. Em todos os sentidos, foi de facto o ano da minha vida. Durante esse tempo reaprendi muitas coisas. Coisas que achava perdidas, como saber o que era amar e saber como era sofrer a amar. Durante um ano eu e o meu amante multiplicamos os nossos encontros fortuitos na sua casa em Mindelo, sem eu jamais desconfiar da identidade daquele meu anjo. Da sua verdadeira natureza, a sua vida, os seus verdadeiros sentimentos. Acho que por isso também durante esse ano aprendi coisas novas. Aprendi como se vive vidas falsas, vidas duplas, como se enganar uma ou muita gente, como se pode deixar de se viver por se amar demais ou por amar errado.
Acham que isso existe mesmo? Amar errado. Que significa verdadeiramente isso? Amar quando se deve odiar? Viver para alguém quando se deve fugir desse alguém? Ou amar de forma errada, com a intensidade errada, a pessoa errada, no tempo errado, no sitio errado? Não sei, e por vezes sinto até dificuldade em saber o q é o erro.
O meu erro. Claro que o meu erro foi com certeza o de ter amado demasiado o Jorge e de lhe ter entregue de bandeja a minha vida. O meu erro foi o de ter dado a minha vida pelos meus filhos. O meu erro foi o de me ter apaixonado pelo Victor. O meu erro foi o de ter amado esse homem que fantasiei na minha cabeça e que nunca verdadeiramente existiu. O meu erro foi o de ter traído a minha família. Bem vistas as coisas, a minha vida assemelha-se a um cesto de uvas depois das vindimas, carregado, carregada de erros. Esse ano da minha vida foi de facto o ano da minha vida. Para o melhor e para o pior também.
Setembro não demorou a chegar e vi-me deixar separarem de mim os meus filhos. Vi os seus rostos de angustia e medo naquela tarde de Domingo em que o Jorge os veio buscar. Naquela tarde em que fiquei parada no meio da rua, vendo-os chorar no banco de trás do carro, impotente, enfraquecida pelos erros da minha vida, sem forças para impedir que o meu ex-marido me levasse o que restava da minha errada existência.
Foi como um sopro. Um sopro de vento, que tudo levou, excepto a dor e a solidão. A dor era tão funda que me deixava imóvel, incapaz de qualquer acto, qualquer movimento. Não sei como respirava ainda.
Assim se passaram semanas. E depois meses. Apenas os via aos fins-de-semana, só alguns, aqueles que coincidiam com os fins de semana em que o Jorge não os levava para fora. Não podia entrar no colégio. Visitas proibidas. Quando ligava ao Jorge a reclamar, sempre as mesmas ameaças, sempre a mesma sabedoria de advogado. Mais parecia viver num país árabe, em que a ditadura masculina tudo vence.
Aconselhou-me a viajar, a sair do país, a deixa-los em paz. Dizia que estavam bem, que estavam felizes e que sentiam cada vez menos a minha falta. Não era isso que sentia quando conseguia estar com os meus filhos. O Manel mal comigo falava e recusava os meus mimos mas isso não divergia muito do que fazia quando ainda éramos uma família. O Pedro mostrava-se mais meigo do que nunca. Uma vez virou-se para mim e disse-me que o pai já lhe tinha contado o que acontecera. Com os olhos cheios de agua, confessou que nessa altura desejou que eu não fosse sua mãe mas que tinha por fim descoberto que qualquer que fosse a asneira que eu tivesse feito, ele iria gostar sempre de mim e queria que eu continuasse a ser sua mãe. E sorrindo acrescentou, que me desculpava pela minha asneira, porque eu também o tinha desculpado de todas as asneiras que ele tinha feito quando ainda vivíamos juntos.
O Pedro tinha uma teoria muito própria sobre a nossa separação. Achava que o pai tinha saído de casa apenas para me pôr de castigo, mas que logo logo isso iria acabar e iríamos poder viver de novo todos juntos.
Aos poucos fui perdendo os meus filhos. Os seus fins de semana eram para festas, estudos ou viagens. As visitas e telefonemas iam escasseando. Ate me virarem as costas para viverem as suas justas vidas. Life goes on! E eu fiquei um pouco mais só, ou novamente só, como quando perdi os meus pais ou como quando pensei que o Jorge era a minha ultima réstia de vida. O que afinal se veio a provar que não era.

segunda-feira, março 06, 2006

Fragmentos I

Nampula, 17 de Janeiro de 2002
Meu querido!

Não sei bem como começar. E acredita que desejava que percebesses um pouco tudo o que se passou comigo. Sei que porventura pensas que não foi a forma mais correcta de eu resolver as coisas mas foi aquela que na altura me pareceu mais fácil de fazer. Ou não. Se calhar continuo a ser egoísta e a pensar só em mim, e a desejar o que não posso nunca ter. Mas eu preciso mesmo de encontrar algo, que sinta que é meu, que eu ame e que me ame também.
Gostava de pedir desculpas a todos os que penso que magoei. Desculpa sinceramente! Não quero que pensem que estou a brincar e peço que me entendam, apesar de parecer difícil.
Olha, sabes bem que o problema todo é comigo. A minha falta de amor próprio faz-me muitas vezes desejar o impossível e continuar a insistir até não aguentar mais. Foi um pouco o que aconteceu. Desejei demais, apesar de por vezes consciente do que já tinha conseguido na minha vida. Mas tu também sabes que por vezes o coração tem uma força enorme, quase impossível de se medir, maior do que a própria razão e que toda a sabedoria do mundo.
Sempre pensei que conseguia controlar tudo, que podia mudar a minha vida para que me tornar um pouco mais feliz. Durante muito tempo nem sequer me apercebi que a felicidade é um bem que se vai conquistando ao longo da vida, com a calma e a serenidade dos anos. E que chega naturalmente como a vida ou a morte. E nunca, sei-o agora, da forma como desesperadamente a tentei agarrar.
A verdade é que a determinada altura perdi o controlo da situação e só consegui espalhar dor e desilusão aos poucos que ainda restavam comigo. Consegui perder a felicidade já conquistada, que e tal como num jogo em que só os pontos contam, muita falta me fazem agora.
Gostava de tentar explicar como me perdi depois. Quando tomaste a decisão de continuar a tua vida sem mim, senti o mundo desabar. E deixei-me afundar uma vez mais, á semelhança do que tinha feito no passado quando me nasceu o segundo filho (que eu tanto amo!).
Passei a viver tal como um drogado, procurando desesperadamente algo que acalmasse a minha dor, a minha angústia e o vicio em que me tinha afundado. Porque tu, no fundo, não deixaste de ser um vicio, o meu vicio.
Passei dias inteiros obcecada contigo, em te falar, ouvir a tua voz ou simplesmente saber algo de ti. Onde estarias, como estavas, e com quem estavas, o que fazias. Queria mesmo era saber o que ainda sentias: terias saudades minhas, pensarias em mim? O que pensavas de mim? O que pensas de mim?
Aos poucos, muito lentamente, fui-me apercebendo como isso era impossível. Desapareceste sem sequer deixares recado, sem abandonares a tua vida, a tua rotina, a tua casa, os teus hábitos, os teus amigos. Desapareceste apenas de mim. Deixaste de estar naturalmente do meu lado. E isso quase me levou à loucura.
Vivi momentos de dolorosa angustia e ansiedade. Comecei a passar mal até fisicamente, com suores frios, dores no peito, quebras de tensão e dias completos sem dormir. Irremediavelmente tive que recorrer aos anti-depressivos para aguentar os próprios dias. As doses foram aumentando até chegar ao ponto de entrar num circulo muito perigoso e nefasto. Apercebo-me agora que me tinha, de certa forma, tornado numa viciada.
Porém e tal como o sol que morre todos os dias para nascer na manhã seguinte, um dia renasci de novo e quis, desejei mesmo, passar a controlar de novo a situação. Não imaginam como foi difícil e como foi a minha primeira semana sem drogas e também sem ninguém. Porque continuava sozinha e tudo consegui sozinha.
Quantas vezes cheguei a pegar no telefone, a marcar o teu numero e depois de seguida desligar. Pensei tantas vezes em te pedir ajuda. Precisei tanto da vossa ajuda. Tanto!
Eu sei, “quem semeia ventos, colhe tempestades” mas penso que tudo o que me aconteceu já estava definido, estava no meu destino. Perguntas se acredito no destino? Não. Não sei, mas quero acreditar que sim, também um pouco para me poder perdoar a mim mesmo.
Na segunda semana sem dependência química comecei a ficar mais relaxada. Confesso que também devido ao apoio do meu psicólogo, que me ajudou a meter na cabeça os valores e riquezas que a vida continuava a ter e que eu tinha perdido.
Decidi em pouco mais de dois meses vir para cá, para a minha nova casa, a minha nova família. Isto é lindo sabias?
Olha meu querido, não te vou dizer que estou completamente feliz e curada, e muito menos que me esqueci do que se passou. Sinto muita a falta dos meus filhos, a tua falta. Mas quero acreditar que aqui vou reencontrar a serenidade suficiente que me permita um dia voltar.
Quero poder voltar a conquistar os meus filhos, o amor dos meus filhos. Não quero que entendam o que fiz ou porque o fiz. Quero apenas ter a oportunidade de lhes dar todo o meu amor, aquele que nunca morreu no meu coração e que por pouco me levou a própria vida.
Espero e rezo a Deus todos os dias, para que não seja tarde demais.
Beijos a todos,

Rita Freitas

quinta-feira, março 02, 2006

A musica!

Eu sei que vos disse que só escrevia para a semana, pois de facto ando com tão pouco tempo..... mas nao resisti a colocar-vos aqui a musica que me tem "atacado" ultimamente e que eu nao consigo deixar de cantar aos berros (porque será???). E eu que nem gosto da Shakira!! É a musica!!!!! Existem musicas que mexem comigo..... Beijos e até para a semana!



She’s got the kind of look that defies gravity
She’s the greatest cook
And she’s fat free

She’s been to private school
And she speaks perfect French
She’s got the perfect friends
Oh isn’t she cool

She practices Tai Chi
She'd never lose her nerve
She's more than you deserve
She's just far better than me

Hey, hey

So don’t bother I won’t die of deception
I promise you won’t ever see me cry
Don’t feel sorry

And don't bother
I’ll be fine
But she’s waiting
The ring you gave to her will lose its shine
So don’t bother, be unkind

I’m sure she doesn’t know
How to touch you like I would
I beat her at that one good
Don’t you think so?

She's almost six feet tall
She must think I'm a flea
I’m really a cat you see
And it's not my last life at all

Hey, hey

So don't bother I won't die of deception
I promise you won't ever see me cry
Don't feel sorry

Don't bother
I’ll be fine
But she's waiting
The ring you gave to her will lose its shine
So don’t bother, be unkind

For you, I'd give up all I own
And move to a communist country If you came with me, of course
And I'd file my nails so they don't hurt you
And lose those pounds, and learn about football
If it made you stay, but you won't, but you won't

So don't bother, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine
Promise you won't ever see me cry

And after all I'm glad that I'm not your type
Promise you won't ever see me cry

Don’t bother, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine
Promise you won’t ever see me cry

And after all I'm glad that I'm not your type
Promise you won't ever see me cry

(Shakira, Don't Bother)