quinta-feira, novembro 02, 2006

Ponto final

Coloco hoje um ponto final nesta grande aventura que foi “ter um blog”.

Quando decidi criá-lo, ou melhor, quando me convenceram a criá-lo, estava longe de imaginar o papel que ele teria na minha vida. De facto, quando em 27 de Janeiro criei o blog e timidamente publiquei o meu 1º post pensei “bem, vamos lá ver no que isto vai dar.” Nunca pensei em contar a alguém. Iria deixar que fosse apenas a blogoesfera a conhecer-me. Não queria, temia até, que alguém que eu conhecesse pessoalmente tivesse acesso aos textos que eu escrevia.

A verdade é que sempre gostei de escrever, inventar estórias, criar diálogos baseados em algumas situações verídicas ou não, sonhar. Timidamente ia mostrando algumas das coisas que escrevia e lembro-me de como sentia um formigueiro na barriga enquanto esperava por alguma reacção que, no meu entender, nunca surgiu. Por isso, se a quem eu tinha coragem de dar a ler não me dava a sua opinião porque não dar aos desconhecidos, aos entendidos, aos que, tal como eu, gostam de ler e de escrever? Foi esse, senão o principal, um dos objectivos da criação deste espaço. Saber o que pensavam daquilo que ia escrevendo por aí. Tentar aprender com todos vós. Crescer na minha escrita.

Nesse mesmo fim-de-semana (o blog foi criado a uma sexta-feira) a minha vida mudou. E de um segundo para o outro. Inesperadamente. Brutalmente. O blog passou a ser então o meu local de reflexão, o meu “psicólogo”, a minha “bóia de salvação”, a minha própria vida. Aprendi tanto, tanta coisa nova! Conheci gente tão linda, com corações tão grandes! Levei comigo tanta gente a esta loucura (é ver a quantidade de família nos meus links) que acho que finalmente o dever está cumprido.

Ao longo destes meses aprendi a dar um novo rumo à minha vida, sorri muitas vezes, chorei outras tantas. O blog era como um fiel amigo, que me ia acompanhado, apoiando, seguindo de perto. Na verdade, este blog humanizou-se, falava comigo, incitava-me a agir. Aquilo que eu queria que ele tivesse sido era TEU. Um local onde tu me poderias encontrar sempre que quisesses, onde me poderias invadir sem eu me dar conta disso. Uma tentativa de calar a tua timidez quando lias os meus textos e não sabias o que dizer. Dar-te do mais intimo de mim. Contar-te todos os meus segredos. Esperar que os entendesses. Talvez, quem sabe, até tu te pudesses finalmente abrir e através dele te pudesse eu própria te encontrar. Assim não o quiseste. Não te culpo, de nada. Pelo contrário. Não lamento nada do que acabei por aprender. Não lamento a minha nova vida. Lamento talvez o facto de nunca termos falado, nunca nos termos conhecido. Nunca termos tido essa oportunidade. Esse era de facto o principal objectivo do meu blog. Daí o seu nome. Era para ti. Sempre foi.

Mas isso, hoje isso também não é assim tão importante.

Agora que mais nada tenho para te dar, que sentido tem?
Agora que “deixei” finalmente o psicólogo, porquê continuar?
Agora que estou finalmente em paz, porquê continuar a perseguir-te?
Agora que já sei do que sou capaz, que já encontrei as “minhas almas gémeas”, não é melhor parar?

Sim. Vou parar. Não existe mais motivo para o manter. Outros voos me esperam. Outros locais, outras vidas. Quero-me concentrar neles como o fiz durante meses aqui.

Aos que me foram lendo, um grande abraço e um muito obrigado. Não deixarei nunca de vos visitar. Já fazem parte de mim.

Aos amigos que fiz, nomeadamente a Sílvia, o Rui e o Rafael, jamais vos esquecerei. E vamo-nos falando por aí, não é?

À família, primas e tias, que vos dizer? Que vos reencontrei a todas, uma por uma; e que me enchem o coração de alegria sempre que vos tenho; e que vos adoro acima de qualquer coisa neste mundo. E que, mesmo já o sabendo antes, cada vez mais reitero a ideia de que “a família é o bem mais precioso que o ser humano pode ter.” E eu, bom, eu tenho um verdadeiro tesouro. Um beijo a todas.

A todos os que discretamente me vão lendo e não comentam por escrito mas que me foram apoiando pessoalmente, um obrigado também. A partir daqui é só entre nós.

Um beijo e até sempre.

(ps. Só agora me apercebi que estive por aqui cerca de 9 meses. A natureza é mesmo incrivel não é? São mesmo precisos 9 meses para se criar uma vida nova!)

terça-feira, outubro 31, 2006

Para a minha melhor amiga

Para ti,
que és a minha melhor amiga,
queria-te dizer,
hoje que é o teu dia,
que preenches o meu mundo,
que és o meu mundo,
e que sem ti não saberia como viver.

Hoje,
que mais um ano se cumpre,
sinto o renascer de mais um dia,
na tua vida que preenche a minha
e penso na felicidade que eu tenho,
de ter uma amiga assim,
sempre presente como tu.

Mãe,
existem coisas no mundo,
as quais não sabemos quantificar o seu valor.
Por mais que tente,
sinto sempre que é de menos
o amor que sinto por ti.
Porque tu mereces tudo,
deste mundo e do outro
e por vezes sinto que não sei
dar-te tudo aquilo que mereces.

Para ti, minha Mãe,
um grande dia,
um grande beijo,
um grande abraço,
e um grande obrigado por seres como és.

Porque tu és linda!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Cheguei.......

Cheguei ontem, era meia-noite, cansada mas feliz. Que grande aventura. Tantas descobertas. No local onde a Europa toca na Ásia descobri uma grande verdade : Everything in this world is possible. If you believe, nothing is impossible. You just need to believe.

E eu, bom, eu acredito!!

Prometo contar-vos tudo, mas não para já. As emoções têm que assentar, tenho que sair do transe eufórico, da agitação constante, deixar o sangue voltar à pulsação normal. Para não cometer nenhum exagero.

Hoje assino com uma foto!



(Hagia Sofia, Istambul, Outubro/06)

quinta-feira, outubro 19, 2006

Eu já venho....

....

sexta-feira, outubro 13, 2006

Its all over.......

(como ando numa fase menos inspirada e gosto de me inspirar na música, deixo-vos aqui a letra de uma música que gosto muito. espero q gostem.)


Everything you think you know baby
Is wrong
And everything you think you had baby
Is gone
Certain things turn ugly when you think too hard
And nagging little thoughts change into things you can't turn off
Everything you think you know baby
Is wrong
It's all over but the crying
Fade to black I'm sick of trying
Took too much and now I'm done
It's all over but the crying
Do you really think I'm made of stone baby?
C'mon!
That we only love the things we own?
Baby you're wrong
Certain things just happen when you make no plans
And love can really tear you up and it can break you down
Everything you think you know baby
Is wrong
It's all over but the crying
Fade to black I'm sick of trying
Took too much and now I'm done
It's all over but the crying
Baby we're done
If I could I would
I'd change everything
Cause I can't forget you though you don't believe me
Now I can't walk back
I can't leave behind
Where does it go all the light that we had?
Everything you think you know baby
Is wrong
And everything you think you had baby
Is gone
Baby we're done


(Garbage, It's All Over But The Crying, album: "Bleed Like Me" (2005))

terça-feira, outubro 03, 2006

Amor eterno!

Chama-se Pedro e é uma das pessoas mais incríveis que conheci até hoje. Conheci-o há muitos anos atrás era eu ainda uma criança. Vivemos na mesma cidade e frequentamos as mesmas escolas. Conheço-o desde sempre mas nem desde sempre nos falamos. A primeira vez que o vi deve ter sido durante a primária. O Pedro é mais velho que eu um ano e quando entrei para a primeira classe ele andava já no segundo ano. Lembro-me de o ver a jogar à bola no meu primeiro dia de escola e de pela primeira vez o admirar pela sua alegria e vivacidade. Corria veloz atrás de uma bola e não sentia medo algum em enfrentar o adversário. O objectivo era chegar à baliza contrária e marcar golo. Nunca o vi desfalecer ou desistir mesmo quando a sua equipa perdia. Incentivava os colegas e sorria, sorria muito. Depois do jogo enquanto que os colegas de equipa desmoralizavam e se sentavam macambúzios a comer o seu lanche depois de mais uma derrota, o Pedro servia de alento a todos eles. Pegava com todos fazendo-os rir das próprias asneiras e ridicularizando a falta de jeito que todos pareciam ter para jogar à bola. Acabava por pôr todos a rir e talvez por isso fosse admirado e querido por todos. Durante toda a escola primária lembro-me de o ver a jogar à bola. Nunca falamos e acho que até passei despercebida dele durante esse tempo.
Ficamos amigos anos mais tarde já no liceu. O Pedro era um rapaz alegre. Nunca vi aquele miúdo triste ou de mau humor. Tinha sempre uma palavra a dizer: ou contando uma piada; ou dizendo uma asneira; ou metendo-se com as raparigas do liceu que coravam quando por ele eram notadas. O Pedro era bonito, desde novo o seu ar rebelde atraía muitas miúdas. Conhecemo-nos por amigos em comum e sempre me tratou muito bem. Sorria muito quando nos cruzávamos no corredor e dizia-me “como vai a mais bela flor deste jardim?”. Corei muitas vezes ao ouvir o seu elogio e ele sorria ainda mais, continuando o seu caminho sem se voltar para trás.
Depois do liceu veio a Faculdade. Seguimos caminhos diferentes mas ainda assim próximos. Cursos diferentes mas na mesma cidade. Os percursos eram por isso comuns e tornamo-nos mais amigos e companheiros. O Pedro tinha crescido, estava mais maduro mas mesmo assim menos do que nós. Continuava brincalhão, fazia muitos disparates e alegrava os nossos dias fazendo-nos rir muito.
Éramos um grupo de cinco pessoas que iam de Gaia para o Porto todos os dias estudar. Eu, o Pedro, a Mariana, o João e o Miguel. Tornamo-nos se certa forma amigos íntimos. Partilhávamos as emoções da vida universitária, os nossos medos e frustrações e também as nossas paixões e alegrias. De todos o Pedro era o mais hilariante. Fazia-nos rir até às lágrimas mesmo com os seus conflitos e problemas pessoais ou de estudo. Secretamente admirava-o e nutria por ele um grande carinho. Sentia-o como sendo um irmão mais velho que nos protege acima de tudo e nos ajuda a caminhar em frente “Sempre para a frente!” dizia-me ele quando desabafava sobre algum problema, “nunca olhes para trás, sempre em frente!”
Invejava a sua força, a sua capacidade de dar a volta sempre por cima e essencialmente a sua alegria. Nunca o imaginava só ou triste, para mim, o Pedro era a felicidade personificada. E como me sentia bem na sua companhia. Eu e os outros. Se um dia faltava às aulas por carolice ou doença a sua ausência era de todo notada. O dia não amanhecia da mesma forma quando o Pedro não nos acompanhava. Caminhávamos mais apreensivos para um novo dia de estudo e trabalho e sentíamos falta do seu sorriso para nos aconchegar os medos.
As diversas circunstâncias das nossas vidas foram aos poucos alargando a distancia que nos unia. Os namoricos mais ou menos sérios, os chumbos, os colegas de curso, as diferentes festas, as diferentes noitadas. Permanecemos amigos, sempre, mas em mundos diferentes.
Anos mais tarde, só muitos anos mais tarde me tornei sua verdadeira amiga. “As telhas encobrem muita coisa” disse-me ele um dia. E na verdade, os telhados cumprem a sua função à risca, protegem o nosso mundo do lado de fora, abafam o casulo que é a nossa vida não deixando que nada nem ninguém o penetrem.
Já durante a sua fase adulta o Pedro perdeu a mãe e o pai num acidente de viação. O seu maior golpe na vida, o mais marcante e com certeza o mais doloroso. O Pedro viu-se de repente órfão, sozinho. Pela primeira vez na vida vi o Pedro triste e talvez por isso mesmo me tivesse sentido ainda mais triste e com medo. Afinal ninguém estava imune à tristeza. Ali estava o meu querido amigo devastado de dor, incapaz de se levantar de me fazer sorrir, de me apoiar. E também ali estava eu incapaz de o fazer sorrir, de lhe dar de volta a sua alegria, de lhe retribuir todos os bons momentos que me proporcionou ao longo de toda uma vida. Que agonia senti, que desespero, tão perdida que eu fiquei. Como desejei ser forte, como me recriminei por não ter aprendido com ele o acto de dar força a alguém, de animar, de fazer alguém feliz.
Mas o Pedro deu mais uma vez a volta por cima e encarou uma vez mais a vida que lhe tinha sido destinada. Mais maduro por certo, mais consciente, mais marcado mas sempre com a força que lhe conheci e com a mesma alegria. A mesma ou uma muito parecida. A alegria nunca é a mesma depois de se perder alguém que se ama. Muito menos uma mãe e um pai, pilares da nossa existência. Reconheci isso anos mais tarde quando me disse “a morte dos meus pais foi o facto que virou a minha vida. Vi-me confrontado com uma situação com a qual não sabia lidar e a qual não podia mudar.” A morte é assim mesmo, a coisa mais definitiva que há. Aprende-se a lidar com ela mas nunca se pode inverter os seus efeitos. “E jurei a mim mesmo que nunca mais nada, nem ninguém me iria fazer sofrer e deitar abaixo como nesse dia esse acontecimento.”
E o Pedro voltou a sorrir e a fazer sorrir. A dor da sua perda, essa, guardou-a para si no fundo do seu coração e das suas memórias.
Faz hoje quatro anos que me tornei mais sua amiga, a sua melhor amiga como ele carinhosamente o diz. Falamos muito, de tudo, sem tabus. Rimos como loucos, choramos quando precisamos e conhecemo-nos como mais ninguém nos conhece. E por isso hoje sim me sinto sua amiga. A auréola de felicidade que sempre lhe vi era afinal pura ilusão minha. Era assim que o gostava de ver, de o sentir. Porque era assim que precisava que ele fosse. Porque o queria feliz, porque o queria meu amigo, porque o queria forte, porque precisava dele e da sua ajuda para eu mesma me sentir bem.
O Pedro dá-me muita paz. É verdade, transmite-me muita paz, muita calma. Consegue-me chamar à razão quando me sinto perdida nas profundezas do meu coração. E quando perco a cabeça e me torno intransigente, fala-me directamente à alma e amolece-me este coração por vezes frio.
O Pedro é hoje em dia um profissional excepcional. Director na área comercial, responsável pelo mercado externo de uma empresa que se dedica à produção de vinho do Porto. Percorre o mundo à procura de mais e mais clientes. Pela sua atitude positiva tem conseguido grandes êxitos. Tem contactos nos quatro cantos do mundo, desde Africa às Américas, passando pela Ásia até à nossa velhinha Europa. Para ele não há impossíveis na profissão e a todos os problemas responde ainda com mais força e energia. Passa grande parte do seu tempo a viajar, conheceu mundos diferentes, pessoas diferentes, culturas diferentes, que fizeram dele o homem excepcional que sempre reconheci.
Sempre lhe tinha conhecido diversas namoradas, umas mais chegadas do que outras. E sempre que lhe perguntava quando se casaria, ele me respondia “Mais cedo do que tu julgas! Qualquer dia apareço-te lá em casa de convite na mão.” E sorria, sempre aquele sorriso. Eu anuía, muito pouco convencida disso mas confiante que um dia isso de certo aconteceria. Depois como se veio a confirmar o Pedro nunca casou.
Um dia chegou ao pé de mim e beijando-me na face, pegou-me pela mão e afastando-me do nosso grupo de amigos disse-me “Preciso de falar contigo!” Desconcertada com todo aquele mistério segui-o. Com o coração a pulsar e os pensamentos em alvoroço segui-o até a uma sala mais recatada do clube de leitura a que ambos pertencíamos. Sentia-o nervoso e indeciso sobre se deveria de falar ou não. E eu sem saber bem como lidar com a situação. “Então, disse-lhe eu, que tens para me contar? Fala de uma vez que me estás a assustar!” O Pedro não sorriu como sempre fazia quando o pressionava a contar-me algo. Estava apreensivo, como que envergonhado. Começou a falar. Falou muito, dos nossos tempos de adolescência, da universidade, dos pais, da profissão. Eu ia-o seguindo no meandro das suas divagações e tentava devagar chegar ao assunto que tanto o afligia. Ele dava luta, deslizava ao de leve sobre o principal, tentava mudar de assunto, voltava a ele quando menos esperava.
Estivemos nisso horas. Quando eu já pensava desistir mais por cansaço do que por desinteresse, ele olhando-me nos olhos disse-me “Sabes que sempre fui apaixonado pela Mariana?”
“A Mariana", pensei, logo a Mariana!
Não consegui deixar escapar o meu espanto e de certo a minha desilusão. Como que arrependido o Pedro tentou desvalorizar a questão forçando um sorriso que eu sabia não ser sentido.
A Mariana tinha casada há uns anos com um alemão. Tínhamos ido todos ao seu casamento e tínhamos todos sido testemunhas da sua felicidade. Mentalmente recuei uns anos atrás tentando descortinar por entre os fios na minha memória algo que me levasse a concluir isso mesmo. O Pedro apaixonado pela Mariana!! Quem diria!!
Timidamente o Pedro começou a sua história. Era verdade mesmo, havia muitos anos atrás que se tinha deixado apaixonar pela Mariana. Ela tinha qualquer coisa que o atraía por demais. Era o seu sorriso, os seus olhos, a sua forma de pensar. Algo os unia desde sempre, e ele nem sabia bem explicar o que era. Havia uma cumplicidade explícita, quase como se os dois se complementassem de alguma forma. Mas tinham sido sempre amigos. Ele nunca tinha tentado nenhuma aproximação ou sequer uma confissão. Gostava demais dela para a colocar numa situação dessas. O Pedro não queria nunca perturbar a felicidade dela. Gostava demasiado dela para a fazer passar por isso.
“Ohhh Pedro, estás a falar a verdade, não me estas a contar mais uma das tuas historias?”, eu continuava pasma. Tinha perdido totalmente o sentido das coisas. Não concebia como alguém poderia manter um sentimento tão belo como este parecia ser, durante tanto tempo. Como o Pedro deveria ter sofrido todos estes anos.
Tentei lembrar-me do dia em que a Mariana se casou. Lembro-me perfeitamente dessa tarde de Setembro, quente como o são os dias mais fortes do Verão. A Mariana entrou na igreja de braço dado com o irmão. Estava linda, parecia uma princesa. O cabelo solto, o vestido justo, imaculadamente branco, que a faziam parecer uma daquelas modelos anorécticas tão na moda agora. O véu cobrindo-lhe o rosto…. Durante a festa lembrava-me do Pedro a beber, bebeu muito nesse dia. Mas isso tal como todos nós, acho eu. Foi uma festa memorável, ficamos a dançar até de manha. Comemos muito, brincamos muito, rimos bastante e bebemos demais. Definitivamente todos bebemos demais.
Todos estes anos e eu sem conhecer o coração do Pedro. A verdade é que nunca tinha entendido bem porque é que ele nunca se ligava demasiado a nenhuma mulher mas desculpava-o pela sua rebeldia e eterna juventude.
E o Pedro continuava a falar dela, como que hipnotizado, “sabes que cheguei a achar que ela sentia algo por mim também, os nossos olhares não eram inocentes, acredita que não!” Eu acreditava, eu absorvia todas as palavras do Pedro e ia acreditando. O seu tom de voz, o seu olhar, a sua postura dizia tudo. Ele era um homem apaixonado. Dez anos depois ele continuava um homem apaixonado. Os seus olhos brilhavam, a sua voz tinha acalmado, o Pedro parecia flutuar quando falava na Mariana.
E eu desiludida. Um peso no peito, uma súbita incapacidade de respirar, “porquê ela, pensava eu, mas e porque não uma qualquer outra de nós?” Lutava por não demonstrar o que me ia na alma mas o Pedro conhecia-me bem demais. “Lamento desiludir-te amiga, mas as coisas são mesmo assim, muitas vezes desejei que tudo isto fosse diferente!”
Passaram-se alguns dias antes de poder falar com o Pedro de novo. Compromissos de ambas as partes tornaram impossível até uma saída à noite para tomar café. Passei a semana toda com o Pedro na cabeça. Como era possível, eu nunca ter suspeitado de nada. E a Mariana, será que ela sabia? Tinha que estar com o Pedro, precisava de lhe perguntar mais pormenores, o porquê do seu segredo, porque nunca se abriu com ninguém. E principalmente, porquê agora?
Na sexta-feira seguinte liguei-lhe para o telemóvel, “olá linda, estava à espera do teu telefonema!” Meu Deus, como ele me conhecia bem. Quando nos encontramos no café recebeu-me com um sorriso rasgado. “Eu sabia que me ias ligar. Não te preocupes comigo, porque eu estou bem!” Parecia-me bem de facto, o seu sorriso lindo tinha voltado, estava de novo bem-humorado e até se meteu com a empregada do café reclamando pelo preço dos cafés ”oh menina, qualquer dia não ganho para vir aqui tomar o meu café. Mais cinco cêntimos? Isto é um roubo!” A empregada sorria, já habituada aos seus comentários e brincadeiras. O Pedro era assim, conseguia colocar a todos um sorriso nos lábios. Até uma reclamação sua parecia o melhor dos elogios.
Acabei o meu chá de menta e perguntei-lhe “Como estás amigo? Fiquei preocupada contigo!” O Pedro estava bem. Tinha apenas sentido necessidade de falar comigo. Há muito tempo que o devia ter feito. Quantas vezes o tinha pensado e tentado fazer, mas à última da hora perdia sempre a coragem.
O Pedro ia respondendo calmamente a todas as minhas perguntas. Quase nem o deixava respirar. Não, nunca tinha contado nada à Mariana. Sim, ainda gostava muito da Mariana. Se se sentia só? “Que perguntas difíceis fazes amiga!” O Pedro não se sentia só, o Pedro tinha muitos amigos, o Pedro tinha-se habituado à sua vida de solteirão e não a trocava por nada. “Nunca me hei-de casar linda, agora sei bem disso!” Apesar do seu sorriso nos lábios e da sua calma aparente, as palavras do Pedro não me convenciam. Acho que sentia a sua tristeza e amargura por não poder ter a mulher que amava. Ou então era a minha própria amargura e frustração pelo seu amor impossível. Como a vida era injusta!
“Porque me resolveste contar agora Pedro, o que foi que aconteceu para te abrires comigo?” Senti-me ansiosa, estava louca por poder ajuda-lo, precisava de saber de tudo. Talvez houvesse uma forma de eu o ajudar, de o ajudar a ser feliz, como sempre pensei que ele era. “Essa é fácil, sorriu enquanto me piscava o olho, passei por ela a semana passada de carro. Como não me respondeu ao aceno de mão que lhe fiz resolvi ligar-lhe. Já não se fala aos amigos menina, perguntei, e ela riu-se muito, como só a minha Mariana o sabe fazer. Falamos cinco minutos mas aquilo bateu-me forte. Revivi tudo de novo, todo o meu sentimento por ela. Nesse dia à noite precisava de desabafar. Quem mais do que tu, querida amiga?”Não resisti a abraça-lo, apetecia-me chorar agarrada a ele. Mas tive vergonha, o meu amigo não precisava disso, não o merecia.
Hoje continuamos bons amigos, eu e o Pedro. Os melhores amigos. Ele feliz como sempre, alegre, bem disposto, boa companhia, bom amigo. Eu sempre necessitada dele, da sua alegria, da sua companhia e da sua amizade.
É verdade, ate me esquecia-a de vos dizer, o Pedro casa amanha com a Susana. É verdade, apareceu-me lá em casa há uns meses de convite na mão, sorrindo. Surpreendeu-me como sempre me disse que o ia fazer mas estava muito feliz. E eu, feliz fiquei Porque afinal, sabem, nem todas as histórias de amor acabam mal!

quarta-feira, setembro 27, 2006

A babar de tanto orgulho......

É verdade! Estou aqui a babar de tanto orgulho.....

O meu priminho querido, tão pequenino que é (porque tu para nós serás sempre pequenino!!!) tem demonstrado por varias vezes que é um grande homem. Forte, corajoso, sensivel e muito, muito carinhoso. Desta vez a novidade, a grande noticia do dia, é que foi convidado pela Selecção Nacional de Trampolins para participar no Torneio Inter-selecções que irá decorrer no próximo mês de Outubro, em Londres.

Ricardinho, és o meu orgulho e para mim já és um vencedor!

Um beijo campeão

quinta-feira, setembro 21, 2006

Desafio da Sea! - Os 5 traços da personalidade

Como sou acima de tudo corajosa, aceito o desafio que a Sea me fez lá no Place. E como tambem hoje, por coincidência ou não, até recebi um daqueles testes da net sobre a nossa personalidade através da escrita, digo-vos o que me saiu na rifa!

1- A inclinação de sua letra mostra que você parece ser uma pessoa equilibrada, educada. Mas é um pouco “fria” com quem acaba de conhecer. (tento realmente ser o mais equilibrada possível e isto é um esforço que tenho feito ao longo destes anos e que tem dado frutos. Ás vezes confesso que sou um pouco “fria” mas só quando a pessoa que acabo de conhecer também o é!)

2- A ligação de sua letra revela organização, raciocínio lógico e razoável capacidade de adaptação.(sim, sou organizada demais - nada nunca está fora do sitio certo, chega a ser arrepiante. sou muito "racionalmente" lógica- chamam-me chata, e adapto-me mais que razoável, quase perfeitamente, às novas situações- vulgarmente chamam-me forte!)

3- A direcção de sua letra indica controle, constância e organização, especialmente nas tarefas quotidianas.(esta aqui :)), quer dizer sou um bocado controladita - às vezes, mas não sou muito constante - confesso, ai os meus humores!)

4- A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio. (sim, depois de LÁ chegar, estabilizo e chego ao meu equilíbrio muito próprio)

5- As áreas valorizadas na sua escrita destacam vigor físico e sexual que se reflectem na grande habilidade de expressão corporal.(bom aqui, acho que nem vou comentar….. ai Jesus!!!!)

6- A forma de sua letra demonstra conservadorismo, formalidade e uma certa frieza em seus relacionamentos sociais. Tende a esconder sentimentos. (Nada, nada, mesmo nada. Não sou conservadora, nem muito formal e muito menos escondo os meus sentimentos. Não são todos vós testemunhas disso mesmo???)

Eram cindo, eu sei, mas este teste tem estes resultados todos. Como o ultimo é completamente falso podem excluí-los!!!

E agora, perdoem-me todos na blogoesfera, mas vou passar o desafio à minha família, a saber:
a prima Fortunata
a prima Ana
a prima Tânia
a prima Sofia
a prima Bé


PS. Quem quiser fazer este teste é só ir a http://istoe.terra.com.br/istoedinamica/testes/grafologia/index.asp

segunda-feira, setembro 18, 2006

O sorriso!

Miguel vivia apaixonado.
Miguel era talvez um eterno apaixonado. Em tudo em que entrava era com uma paixão enorme. No seu trabalho, na sua vida afectiva, na família. Não sabia fazê-lo de outro modo. Não conseguia passar pelas coisas ao de leve, sem lhes tocar e encontrar a sua essência.
Miguel era um jovem ainda. Trabalhava nos STCP e era responsável pela zona histórica do Porto. O percurso começava na Cordoaria e passava pela Rua dos Caldeireiros, Lóios Rua das Flores, S. Domingos. Junto ao mercado Ferreira Borges Miguel espreitava o rio enquanto deixava e apanhava passageiros. Miguel era apaixonado pelo seu Porto e em singular pelo seu rio. As cores do seu rio, escuras no Inverno e brilhantes de Verão faziam-no sonhar. Miguel além de apaixonado era também um sonhador. Daqui subia por Mouzinho da Silveira, Praça da Liberdade, Largo 1º Dezembro e chegava à Batalha. Depois dirigia-se para a Sé Catedral, outro local que o marcava. Pela sua posição na cidade, pela beleza das vistas que naquele local se podia alcançar, pelo seu silêncio à noite, onde muitas vezes rumava, e onde se sentava no cima de um muro olhando o seu rio enquanto desfrutava de um cigarro. Daqui partia rumo à Igreja dos Grilos, Palácio da Bolsa, S. Bento regressando assim à Cordoaria. Sabia o percurso de cor, por vezes nem sabia como chegava de uma paragem à outra.
O seu trabalho apaixonava-o. Falava dele como se de uma arte se tratasse. Sabia descrever as ruas e monumentos históricos por onde passava todos os dias melhor do que se de um professor de história se tratasse. Adorava o que fazia e aos amigos gabava-se muitas vezes de poder todos os dias viver o seu Porto por dentro, sentir a sua vida, a sua beleza e o seu cheiro.
Miguel cumprimentava todos os seus passageiros com um sorriso, dando os bons dias ou boas tardes consoante a hora do dia. Muitos já o conheciam, eram seus amigos, sorriam-lhe também. Miguel perguntava como andavam de saúde, muitos deles eram já idosos e deslocavam-se com dificuldade. Velhinhas sorridentes e desdentadas chamavam-lhe filhinho e contavam-lhe as suas desgraças: que este fim-de-semana os seus filhos não a tinham vindo ver; que o médico lhes tinha receitado mais um medicamento e que o dinheiro já não chegava; que os preços da fruta estavam exorbitantes e que nem isso já lhes era permitido comer. A todos, Miguel dava uma palavra de conforto, um sorriso amável, um ouvido atento. E todos eles sabiam da sua paixão.
Miguel andava apaixonado. Não sabia o nome da sua paixão mas sabia-lhe o rosto, a expressão e principalmente o seu sorriso. Via-a todos os dias no seu trajecto. Ela era da PSP do Porto, e fazia parte da polícia de trânsito na mesma zona em que Miguel trabalhava. E se não fosse no mercado Ferreira Borges, era na Batalha que a via ou na Praça da Liberdade. Quando se cruzavam, Miguel ao volante do seu autocarro, ela a pé com a sua farda impecavelmente lavada e passada a ferro, sorriam. Ele ainda se lembrava da primeira vez que a vira. Chamara-lhe atenção talvez por ser uma mulher-polícia, mas também pelo seu porte sensual. A farda ficava-lhe bem, era alta, pernas esguias, anca arredondada e saliente, peito firme. Apreciava em particular o seu rabo-de cavalo, por cima do qual colocava muitas vezes o seu boné azul-escuro. Tinha uns olhos vivos e da primeira vez que viu Miguel ajudou-o a retomar a sua marcha mandando parar uns automóveis que desciam da praça, e sorriu-lhe.
Assim nasceu a paixão dele. Ao longo de todo o seu percurso procurava-a. Sabia que a encontrava mais a cima ou mais a baixo, de manhã ou de tarde. E passou a sorrir-lhe sempre que a via. Um dia acenou-lhe até. O seu coração agitou-se, afinal ela era uma autoridade. A polícia desviou o olhar e mandou-o seguir sem desta vez lhe retribuir o sorriso.
Miguel sonhava com a sua musa. Fora do trabalho não a procurava, sentia receio de saber mais da vida dela. Não queria saber se era casada ou se tinha filhos. Isso iria matar o seu coração. Queria tê-la assim para ele, queria ter o seu sorriso, a sua atenção, mesmo sendo ela com o intuito de desembaraçar o trânsito. Achava que ela também o amava, porque lhe sorria sempre, excepto daquela vez do seu aceno. Miguel desejava conhece-la mais aprofundadamente mas temia perde-la de vez, e isso impedia-o de procurá-la de outra forma. Á noite na varanda do seu quarto, sonhava com ela, numa vida com ela, levá-la de manha para a sede da PSP, beijá-la e pedir-lhe cuidado na estrada, subir para o seu autocarro e sentir-se um homem feliz. Á noite, chegar a casa e sentir o cheiro dos seus cozinhados, jantarem de mãos dadas e depois mais à noitinha amarem-se com ternura, adormecendo em seguida abraçados.
Miguel vivia com os pais a quem amava acima de tudo. Era um bom filho, cuidadoso e preocupado. Tratava do pai acamado dando-lhe tudo o que podia e que ele necessitava, para o fazer sentir-se melhor. Comprara-lhe uma cama articulada e levava-lhe todos os dias o jornal, O Primeiro de Janeiro, que o pai devorava querendo manter-se útil e actualizado. Quando Miguel chegava à noite para jantar, discutiam as noticias, as obras do metro, os prejuízos dos comerciantes, a subida dos impostos ou mais uma vitória do Futebol Clube do Porto.
Um dia, seguindo pelo seu percurso habitual, apanhou a D. Beatriz na Rua das Flores. Ia para a Batalha.
- Bom dia filhinho, como estás hoje?
- Bom dia Dª Beatriz, o seu joelho como anda?
- Olha, com sempre meu amor, cada dia parece que piora. À noite na cama, deitadinha até que estou bem, mas de manhã quando salto da cama….. olha, são umas dores que nem te conto. Ontem falei com a Maria, sabes quem é a Maria? A minha vizinha do segundo?... Sim sabes, aquela que vem sempre cheia de sacos, e sempre mal-humorada e cheia de pressa, bom disse-me que eram artroses que também as tinha e que as dela eram piores. Olha piores, sabe lá bem ela as dores que eu cá tenho…
Miguel ia sorrindo e abanando com a cabeça. Procurava a sua paixão, hoje ainda não a tinha visto. A velhota parou de se lamentar. Miguel, sempre atento, olhou-a pelo retrovisor:
- Estou a ouvi-la D. Beatriz, e depois?
- Estás nada filhinho. Estás é à procura dela. Já a viste hoje? Porque não lhe falas? Sabes onde trabalha, um dia enche-te de coragem e vai procurá-la.
Miguel como que atordoado tentou sorrir:
- De quem fala D. Beatriz?
- De quem falo? Pensas que andamos todos a dormir? Somos velhos, temos as nossas dores, dormimos mal de noite, mas quando estamos no autocarro temos os olhos bem abertos. Queremos ver tudo, para onde nos levas e se nos levas em segurança. Achas que não te observamos?
Miguel ficou nervoso. Pensava que só ele era senhor dos seus sentimentos. Mas como as velhotas tinham dado por ela? Nem sempre a encontrava no mesmo sítio! Por vezes elas até já nem estavam sentadas no seu autocarro! “Cuscas” de velhas!
- Não fiques para aí atrapalhado amor. Já te conheço há muitos anos. Podias ser meu neto. Eu bem vejo o teu sorriso quando a vês. Os teus olhos ficam mais alegres e brilhantes. Olha, brilham tanto como quando o sol se põe no rio. Sabes como é?
Miguel já não sabia o que dizer ou fazer. Limitava-se a olhá-la pelo retrovisor.
- Nunca reparas-te como nos calamos todos quando a vemos? Já a conhecemos de cor, achamos lindo o vosso amor. Esperamos todos os dias que pares o autocarro, e lhe vás lá declarar esse amor que sentes. Porque não o fazes filhinho?
Tinham chegado à Batalha. Miguel ainda estava sem voz. Não consegui pensar em nada para lhe dizer. Ela descia ali. Ao descer, ainda lhe pousou a mão no ombro e sussurrou-lhe “Não tenhas medo!”
Nesse dia Miguel não a viu. Passaram-se mais dois sem a ver e ele começava-se a preocupar. Estaria de férias? Doente? Passou a andar mais calado, mais distante com os seus amigos passageiros. Os velhotes compreendiam-lhe a angústia e tentavam não lhe atrapalhar a procura.
Passaram-se dez dias, e Miguel não era o mesmo. À D. Beatriz partia-lhe o coração ver assim o seu motorista preferido. Perguntou-lhe se estava doente e aconselhou-o a ir a um. “Estás com muito má cara menino!” dizia ela, com um sorriso triste. Miguel tentava manter as forças e agradar a todos. Em casa também o seu pai o sentia diferente. Muitos eram os dias em que se esquecia do jornal e tinha deixado de o ver jantar. Desculpava-se com uma dor de cabeça e fechava-se no quarto.
No dia 15 de Setembro, o jornal que trazia nesse dia para o pai, desfez-lhe o mistério. “Jovem polícia morre, após mais de 10 dias em coma” O título de primeira página do Primeiro de Janeiro feriu-o como uma bala. Desfolhou o jornal para ler a notícia completa. Não queria acreditar no que o seu coração lhe dizia. Não era ela, não podia ser.
Mas era-o de facto. A notícia explicava como a jovem polícia de 33 anos não tinha resistido aos danos causados pelo grave acidente de viação de que tinha sido vitima. Madalena. Chamava-se Madalena. Atropelada num domingo à noite, por um automóvel descontrolado, que descia a Rua dos Clérigos, e que a foi apanhar à berma da estrada. Viu a sua foto no jornal, viu o seu sorriso. Pela primeira vez soube o seu nome a sua idade. E que deixava uma menina de 4 anos, órfã. E de como a sua vida virou uma tragédia.
No dia seguinte, Miguel não foi trabalhar. Seguiu o conselho da D. Beatriz e foi ao médico. Meteu baixa uns dias. O médico diagnosticou-lhe uma depressão. Quando Miguel tinha entrado no consultório, durante mais de meia hora a única coisa que conseguiu fazer foi chorar.
Uns dias depois regressou. Pediu mudança de zona. O seu chefe Martins assustou-se. Nunca Miguel se tinha mostrado disponível para tal. Miguel alegou algum cansaço e daí a sua depressão. Deram-lhe a linha 705 que vai do Hospital S. João até Valongo.
Miguel deixou assim de ver o seu rio. Deixou de subir à noite até á Sé Catedral para contempla-lo. Deixou de lado os seus amigos da zona histórica.
Dizem, quem o vê e o reconhece, que envelheceu, que está mais magro e que já não conversa com os seus passageiros.
Miguel continua apaixonado por ela, a sua musa. E tem a certeza que um dia a irá encontrar. Porque uma vez, e é capaz de jurar, viu-a ali para os lados da areosa, com o seu fato de policia bem engomado, e o seu rabo-de-cavalo firme escondido por baixo do seu boné de policia de transito.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Há dias assim!

No sábado lembrei-me de ti. E sei que tu também te lembraste de mim. É engraçado como existem dias assim. Dias que tu sabes, que por mais tempo que passe te vais lembrar sempre do outro. E não foi dia de aniversário, nenhuma data importante. Apenas um acontecimento com gostos comuns e divergentes. Parece difícil mas não é, pois não?

No sábado além de me lembrar de ti, senti que tu também me lembras-te. E que tu mesmo também sentiste como eu me lembrei de ti. Estive lá e relembrei outros momentos iguais aquele e no entanto tão diferentes.

No sábado fiquei feliz, eufórica até.Tu deves ter ficado mais triste, um pouco desiludido. Andamos mesmo desencontrados!

Desculpa, até pode parecer provocação, mas acredita que não é. Mas no sábado fui heroína e tu, jogando do lado dos maus, foste vencido pelo meu príncipe (ou diria príncipes?)

Neste sábado saí eu vencedora, noutros, e foram muitos saí vencida. Há dias assim!

***

Days like this!

Saturday I remembered you. And I know that you also remembered me. It is funny as days like this exist. Days that you know perfectly that, for more time that passes, you will always remember the other. And it was none anniversary, none important date. It was only an event with common and divergent pleasures. It seems difficult but it is not, don’t you agree?
Saturday beyond remembering you, I felt that you also remember me. And that you also felt that I had remembered you. I was there and I remembered other events so equal and however so different.
Saturday I was happy, even euphoric. You must have been sad, a little disappointed. We are always in different ways!!
Sorry, this can seem some joke, but it is not, believe me. But Saturday I was a Heroine and you, playing for the bad guys, loose the battle against my Prince (or should I say Princes?)
This Saturday I walked on winning, others were, and it had been so many, that I walked by, loosing. There are days like this!

domingo, setembro 03, 2006

Laços!

Hoje alguem me fez lembrar da importância dos laços. Qualquer que sejam eles! Laços à terra que nos viu nascer, ou simplesmente aquela que nos viu crescer, os nossos laços familiares ou laços que nos unem a certas coisas, como um livro, uma peça de roupa ou uma simples caneta.
Os laços são tão importantes, tão frutiferos, tão poderosos. Quando temos esses laços sentimo-nos seguros e mais confiantes. Sentimos que pertencemos a algo ou até que temos algo nosso.

Pelo contrário, a ausência de laços assemelha-se a um deserto. Quando estive agora recentemente no deserto do Sahara, a paz, a plenitude, o silêncio e aridez do deserto impressionaram-me. Apesar de maravilhada pela paisagem, não pude deixar de sentir esse mesmo deserto no coração. Chocou-me ter que me confrontar com essa realidade. Enquanto percorrria lentamente uma infima parte daquele deserto, foi como que me deparasse com o meu próprio deserto. Só hoje falando com o meu amigo R. é que me dei conta de que foi isso mesmo que senti. A falta de laços.

O meu amigo hoje fez-me chorar. E ficou triste com isso. Disse que pensava que só me fazia bem. Eu contei-lhe o que descobri tambem recentemente. Que por vezes uma lágrima é mais verdadeira e sentida do que muitos sorrisos e gargalhadas. Engraçado como um médico amigo me caracterizou à minha mãe "aquela alegria e vivacidade, para mim só escodiam uma profunda amargura interior." Os sorrisos escondem muito coisa é certo. Uma lágrima não.

A ti meu amigo, e repito o meu agradecimento, muito obrigado por conseguires tirar de mim aquilo que é mais verdadeiro. Contigo até alguns dos sorrisos o são mesmo.

sexta-feira, agosto 11, 2006

As minhas primas!

Tenho tantas e todas tão bonitas.
Longe ou perto de mim, não me esqueço de nenhuma delas. E apesar de serem muitas relembro cada face, cada olhar, cada sorriso mais ou menos confiante. Tenho-as a todas dentro do coração.
Ontem recebi um “beijo” em forma de palavras de uma delas. E esse seu gesto fez-me lembrar de como é bom ter primas assim, e de como eu sou uma felizarda por ter tantas.
Não me contenho em mencioná-las uma a uma: a Bé, a Sónia, a Tãnia, a Ana Luísa, a Andreia, a Carla, a Paula, a Helga, a Isabel, a Ana João e a Ritinha.
São tantas e tão bonitas. A mais velha tem já 2 filhos enormes, a mais nova ainda anda na escola. Um leque variado de flores com cheiros e cores diferentes. Mas todas elas perfumadas.
Minhas queridas primas, de perto ou de longe estou e estarei sempre com vocês, como sei que vocês estão comigo. O meu coração é um grande jardim, onde as flores mais bonitas crescem todos os dias. Por vezes esqueço-me de regá-lo, confesso. Mas logo vem uma boa chuvada que as faz renascer.
As flores do meu jardim são as mais bonitas, as mais coloridas e as mais cheirosas. Não as colho para colocá-las numa bela jarra pois sei que isso as faria morrer. Estão todas lá, no jardim do meu coração para as poder visitar sempre que queira.
Um beijo do meu jardim para cada uma de vós.

(Para ti Andreia, um obrigado especial. Um dia destes tomamos um café. Vamos sempre a tempo, não é verdade?)

***

My cousins!
I have so many and all so pretty.
Faraway from me or closer, I do not forget anyone of them. And although there are so many I can remember each face, each look, each smile. I have them all inside my heart. Yesterday, I received a “kiss” in shape of words of one of them. And her gesture made to remind me of how it is good to have cousins, and how lucky I am for having as much as I do. I have to mention all of them, one by one: Bé, Sónia, Tãnia, Ana Luísa, Andreia, Carla, Paula, Helga, Isabel, Ana João and Ritinha.
There are so many and all so pretty. The oldest one has already two children; the youngster is still in school. They are a great variety of flowers, each one with a different smell and a different color. But all of them so well perfumed.
My dear cousins, faraway or close to me, I will be always with you, as I know that you will be with me. My heart is a great garden, where the prettiest flowers grow each day. Sometimes, I confess, I forgot myself to water it. But there’s always a plenty rain witch makes them blossom again.
The flowers of my garden are the prettiest, the most colored and the most perfumed ones. I don’t cut them to put in a beautiful jar because I know by that they will die. They are all there, in the garden of my heart so I can visit them whenever I want.
From each one of you, my dear cousins, a kiss from my garden.

terça-feira, agosto 01, 2006

Avó Mila!

A minha avó é das pessoas mais felizes que eu conheço. É um orgulho para mim, uma satisfação vê-la sempre a sorrir, sempre feliz. Canta, pula e dança e já tem 83 anos. Quem a vir pensa que está no auge da vida tal é a sua vivacidade.

A minha avó é um exemplo. O meu exemplo. Sabe fazer sorrir uma criança, um adulto e até um velho. A minha avó está sempre lá, sempre, até quando é preciso. Raramente diz “não” e tudo faz para não nos contradizer.

A minha avó é uma amiga. Tenho as melhores conversas com ela. Conta-me coisas fascinantes do seu tempo. Sorrio sempre, incerta da sua veracidade. São sempre histórias engraçadas, sofridas mas que acabam bem. Fico horas a ouvi-la e sempre com um sorriso nos lábios. A minha avó canta para mim, dança até, reza por mim, sorri e chora por mim. Existe amiga maior do que uma assim?

A minha avó, não é o passado, é sempre o futuro. Vamos rindo juntas, cantando, caminhando. Faz parte da minha vida, do meu futuro. Agora, até quer aprender inglês para viajarmos juntas. Quer estar comigo e eu, estar com ela.

A minha avó é minha, não é só minha, mas é MINHA. Faz-me bem ter uma avó assim. Dá-me forças, incentiva-me, cultiva-me. Um dia quero ser assim. Senão for avó que seja pelo menos uma pessoa como a minha avó.

A minha avó é linda, tem rugas e poucos dentes. Mas a sua beleza é superior a tudo isso. É grande, enche a casa, enche a vida, enche-me o coração.

Não há avó como a minha e eu hoje não a partilho com mais ninguém. Porque é minha, porque a quero assim e porque hoje me apetece tê-la só para mim.

***

My grandmother is one of the happiest persons that I know. I feel proud of her and satisfaction for seeing her always smiling, always happy. She sings, she dances, she makes a big party and she has already 83 years. Those who might see her may think that she is on the top of life such is her energy.
My grandmother is an example. My own example! She knows how to make a child smile and also an adult and even an old one. My grandmother is always there, always, even when we need her. A few times she says “no” and she does everything she can not to opposed us.
My grandmother is a friend. I have the best chats with her. She tells me the most fascinate things of her lifetime. I always smile, uncertain of its truth. Its always funny stories, with hard events but all end well. I could be hours just listening to her talk and always be with a smile in my face. My grandmother sings for me, even dances for me, pray for me, smile and cries for me. Is that a best friend as she?
My grandmother is not the past, she is always the future. We laugh together, we sing and we walk on by, always together. She is part of my life, of my future. She even decided to learn English so we can go travel together. She wants to be with me and I want to be with her.
My grandmother is mine, she’s not only mine, but she is MINE. It makes me feel good to have a grandmother like her. It gives me strength, it stimulates me and it makes me grow. Because one day I know I want to be just like her. If I cannot be a grandmother ate least I want to be a person like she is.
My grandmother is pretty; she has wrinkled face and already few teeth. But her beauty is bigger then all that. She is great, she fulfils my home, fulfils my life and fulfils my heart.
There’s no grandmother as my grandmother. And just for today I will not share her with anybody, because she is mine, because I want her like that and because today I want her just for me.

sexta-feira, julho 21, 2006

Armando

Chama-se Armando e é escritor. Tem 82 anos e viveu uma vida plena, em cheio, repleta de histórias que tenta retratar agora nos seus livros. Armando nem sempre foi escritor mas desde sempre escreveu. Era talvez a sua Paixão, a mais verdadeira na vida. Tinha outras, muitas outras, mas esta sobrepunha-se a tudo.
Passou por Africa ficando-lhe as ideias liberais desses anos e o seu constante “mal dizer” dos poderes. De todos eles, fossem religiosos, políticos ou sociais. Por isso a sua escrita é comicamente mordaz. Quem o lê não deixa nunca de esboçar um sorriso. Era contra tudo e dizia que vivia à frente da civilização uns 300 anos. As pessoas à sua volta ouviam-no e sorriam. Hoje, talvez, olhando para ele na cama do hospital meditem nas suas palavras e na verdade que elas possam conter.
Armando é casado mas do seu casamento não teve filhos. Teve no entanto duas filhas antes de se casar, fruto da sua juventude rebelde, e que por ciúmes exagerados da sua mulher teve que manter afastadas uma vida inteira. Uma delas ainda viveu uns anos com o pai e com a madrasta, a mulher do Armando. Mas uma vida sofrida e amarga fê-la emigrar para Paris. Tentou libertar-se de uma culpa que não era a sua, refugiando-se no meio dos gauleses.
A outra filha, nunca assumida, viveu uma vida inteira sem pai. Ou com um pai sempre ausente. Estudou, casou, teve uma filha, enviuvou, e sempre distante do seu pai. As circunstâncias levaram a que Armando nunca a assumisse perante a sua mulher. Tentava compensa-la com visitas semanais feitas às escondidas, com mimos controlados e ocasionais. Em casa inventava viagens ou discussões para se poder ausentar indo ao encontro da sua família de sangue.
Armando não era um homem fugaz ou inconsequente como se poderia de certo pensar. Armando amava demais as mulheres da sua vida e esforçava-se ao máximo por protegê-las, por evitar magoá-las, por fazê-las sofrer. Ninguém o poderia condenar por isso. Os seus esforços nesse sentido não surtiram grandes efeitos, no entanto. É vê-las agora, à volta da sua cama de hospital, e reconhecer o sofrimento em todas elas. A sua única mulher profundamente perdida por o ver a morrer e por reconhecer finalmente, aos 81 anos, as filhas que o marido teve e que sempre tentou esquecer. A filha emigrada, sofrendo longe, vivendo em sobressalto sempre que o telefone toca na sua casa de Paris. A filha à força ignorada, tentando recuperar uma vida inteira de carinhos e emoções que nunca pôde ter do pai, vida essa que vê agora esfumar-se lenta e dolorosamente. A neta, afastada toda uma vida do avô, incapaz sequer de o visitar, tal a dor lhe perpassa o coração. E a sua pequena bisneta ainda totalmente incapaz de sentir a tragédia da sua família mas que, também ela, um dia verterá uma lágrima por Armando. Recordando a vida infeliz que o seu bisavô teve e que se esforçava ao máximo por manter.
Armando nunca foi feliz. Teve momentos de felicidade. Mas o seu constante balancear de vidas manteve-o em constantes sobressaltos, tristezas e lamentações por uma vida que ele desejou diferente.
Há 2 meses Armando teve um AVC. Um bloqueio numa das suas artérias impediu a corrente sanguínea de lhe chegar ao cérebro. Foi levado para hospital e a sua vida mudou. Armando teve inúmeras sequelas: paralisou do lado esquerdo; perdeu a fala; parte da visão e da audição. A idade avançada não ajudou Armando em nada. Um mês depois a imobilização e as pequenas tromboses que se iam sucedendo impuseram-lhe uma amputação. Aos 82 anos Armando perdia a sua perna esquerda. Num dos seus breves momentos de lucidez o escritor, alegrando os enfraquecidos corações das suas mulheres e amigos, disse que ainda ia acabar o livro que tinha começado a escrever. Armando não queria partir sem acabar mais esta sua missão.
O livro continua à sua espera. Armando continua na cama do hospital. O seu corpo lentamente vai deixando de funcionar. É alimentado apenas com soro. O estômago não funciona mais. Os rins e a bexiga também não. Os enfermeiros dizem que ele já não sofre. Mas Armando continua vivo. À sua volta todos se questionam como ainda resiste. O seu coração é forte e é grande. Vive ainda agarrado à sua triste vida. Talvez tentando em vão recompô-la, refazê-la. Armando vive ainda agarrado à sua Paixão, a sua escrita. Armando quer acabar o seu livro. Na sua inconsciente morbidez Armando sabe que não pode morrer assim.


(Armando, isto é para ti. Vai em Paz. Nós nunca te deixaremos morrer.)

quarta-feira, julho 19, 2006

Depois...

Depois veio o príncipe
E o conto de fada desfez-se!

sexta-feira, julho 14, 2006

ERA UMA VEZ...

Era uma vez um princesa
que vivia num conto de fadas....

sexta-feira, julho 07, 2006

Thank you!

For many reasons now, I will write some of my posts in English. Those who don’t speak English I ask for excuse and promise you I’ll be back in Portuguese very soon.



This is for you. Thanks for everything!


Someone said “I have a dream….”.
Now, I can tell you right that. I have a dream, a great dream!

When I first meat him it was nothing more than a normal conversation between strange people, who need just to talk. From that to an enormous friendship was just a step. Today it’s more than that, I’m sure.

To find out that different people in different places of the world can have and shared the same emotions is wonderful. I always have been apologist of making friends where ever and when ever we can. I’m a completely “open mind” person. Presently this is a basic principle and one I know I’ll keep for life. A few things make me stay alert or distrust someone or some situation. Maybe that’s why I have so much to tell, so many unhappy stories in my life. But in each fall that I give I arise myself stronger.

Today I’m stronger, I can feel that. I give as much as I can to make someone happy because I realise that it make me feel good and useful. I receive all the small or great gifts, as God gifts and fully enjoy it. All of that make me feel a better person. Day by day, I’m stronger, I’m happier, I‘m confident.

I have a dream, a great dream. Great as the universe and intense as the sun that burns my skin. That dream showed the purpose of my life. It showed me my essence and the reasons to keep on fighting.

I have a great dream, growing each day. It’s fulfilling my heart and my life.

quarta-feira, junho 28, 2006

Futuro

Hoje dei-me conta de uma coisa. Já não penso em ti como pensava. A sério! Já não conto as horas, os dias e os meses sem ti. Perdi a conta, deixou de me fazer espécie, deixei simplesmente de me importar. É um sinal não? Ainda não sei se é bom, não sei se é mau. Sinto que perdi alguma coisa e não sei bem o quê? Sabes aquela sensação quando sais de casa e te falta alguma coisa mas não sabes o quê? É isso que sinto mais ou menos. Sinto que me falta alguma coisa. Mas não sei bem o quê.

Hoje dei-me conta de outra coisa. Que os sentimentos podem ser relativos. Que podemos passar de uns a outros desde que nos apeteça. Mudar, simplesmente. Esquecer. Reconhecer outros sentimentos. Faze-los imortais. Mas diferentes. Igualmente fortes mas redireccionados. Já não é amor, paixão, carinho, amizade. É talvez um misto de tudo, sem ser nada em concreto.

Hoje dei-me conta de que jamais amarei de novo. Não que jamais serei feliz. Apenas que jamais vou amar alguém. Descobri que nem sei bem o que isso é, isso do Amor . Não sei amar, se calhar nunca o soube verdadeiramente. E por isso também hoje sei que não o quero mais.

Hoje tenho a certeza que vou ser feliz. Não porque já o sinta. Não porque veja a “luz ao fundo do túnel”. Apenas porque descobri que só nós podemos dar o valor que queremos ás coisas. Creio que sempre valorizei demasiado tudo. Sempre exagerei nos sentimentos. Fossem eles o que fossem. Bons ou maus. Sempre fui exagerada. Não existem pessoas muito boas nem muito más. Apenas têm o valor que lhe queremos dar.

Hoje descobri que não amo ninguém (nenhum homem bem entendido, a família está de parte aqui!) e que também não odeio ninguém. Hoje cheguei ao meu ponto de equilíbrio. E sinto-me bem assim. Não sinto falta de nada mas também não desprezo o que me dão.

Hoje estou de bem comigo, estou em paz. Estou pronta para continuar. Já não tenho dúvidas, receios, amarguras, pedras no sapato. Sinto-me livre para voar. Sei que tudo o que me espera é bom e mau. Tudo tem o seu reverso. Por isso não há nada a temer, a evitar, a lamentar. Apenas dar o valor que quisermos dar.

Hoje não cheguei a lado nenhum, não estou a começar nada, limito-me a percorrer o caminho. Não descobri a pólvora, não inventei a roda, limitei-me a reencontrar o caminho. E o caminho é este, o que hoje percorro.

Hoje. Hoje e amanha serei sempre aquilo que agora sou. E o caminho é este. E é este que vou percorrer até ao fim.

segunda-feira, junho 26, 2006

...

"É pena só aprendermos as lições da vida quando já nao precisamos delas." Óscar Wilde

terça-feira, junho 20, 2006

Diga tRinta e tRês!!!!

Eu sei que tenho algumas "pancas". Os meus amigos diriam até muitas pancas. Mas a verdade é que hoje redescobri a minha aversão pela letra R. E não, não venham com essa do “ahh já sei porquê!” porque não é nada disso.
Eu não tenho complexos com a minha idade. Juro que não! Mas desde que entrei na casa dos trinta sempre disse a toda a gente que é horrível. E foi, e é! Uma das coisas que me soava e me soa mal é exactamente o som do malfadado R. Reparem bem, tRinta. Repitam baixinho e vejam lá se o som do R não é irritante. Vá eu espero…..
Tenho ou não razão? Pois é, a mim desgosta-me profundamente e é por isso, só por isso, que não gosto da idade dos trinta. Agora imaginem a minha infelicidade hoje. Já não me bastava um tRês, logo tinham que se juntar dois. Só pode ser para me irritar não acham?

terça-feira, junho 13, 2006

Lembrança!

Lembras-te de mim?
Lembras-te do meu sorriso, sincero e solto?
Das minhas reacções espontâneas que tanto te faziam rir?
Lembras-te da cor dos meus olhos? De como eles brilhavam quando embatiam nos teus?

Lembras-te de como era bonita? E jovem? E cheia de vida?
Lembras-te de mim? Do meu cheiro? Do meu beijo?
Lembras-te de como te amava?

Lembras-te de como parecia um passarinho feliz, saltitando de flor em flor?
De como “pegava” contigo só para te arrancar um sorriso?
Lembras-te de ficarmos horas na conversa?
De nos rirmos até nos faltar o fôlego?
De como éramos amigos?

Lembras-te da nossa cumplicidade?
Da nossa troca de olhares que dizia tudo? Que valia mais do que mil beijos ou carícias?
Lembras-te de mim, meu amor?

Se te lembras fecha os olhos, por favor. Foca-te nessa tua memória. Nessa imagem de mim. Fotografa o momento. Esse mesmo, sim. Agora põe-lo no papel, imprime-o. Regista-o.
Arranja a tua melhor moldura e coloca-me nela. Na tua sala. Na tua casa.
Aquilo que eu fui, já não sou mais. E a memória por vezes atraiçoa-nos.
Quero que te lembres de mim assim. Exactamente assim. Assim como eu era.

Lembras-te de mim? De verdade que te lembras?

quarta-feira, junho 07, 2006

Não fica bem!!!

Ao longo de toda a minha vida tenho ouvido a frase “Não fica bem!” Por tudo e por nada a minha mãe me dizia essa mesma frase “Não fica bem!” Lembro-me de como ficava revoltada com isso. A maldita dita “sociedade” impunha umas normas, uns costumes, que a mim me irritavam e me pareciam sempre injustos. Deixei de fazer muito coisa porque não “parecia bem”. Lembro-me também que aos 20 dei um pequenino grito de revolta e comecei a fazer algumas das coisas que não pareciam bem. A medo, sempre de coração nas mãos, mas perfeitamente convencida que não estava a cometer nenhum crime. E ainda hoje penso assim.
Ultimamente esta velha frase veio ao de cima de novo, “Não fica bem”. Nada fica bem, me parece a mim.
Quando era nova a minha mãe não gostava que assobiasse, porque a uma menina “não fica bem!
A minha mãe também me dizia que não devia jogar à bola ou correr na escola, porque a uma menina não ficava bem.
Não podia “andar” na brincadeira com os rapazes porque não ficava bem.
Mais tarde, não devia defender a minha opinião em relação a determinados assuntos com os mais velhos, porque não ficava bem.
Quando comecei a namorar, já depois da maioridade, não podia sair com o meu namorado de carro, porque a uma menina “não fica bem”.
Também não podia sair à noite até depois das 11h da noite (imaginem!) porque não parecia bem.
Quando me casei recebi um verdadeiro “manual” de coisas que não podia fazer ou não devia dizer porque não ficavam bem.
Desesperada pensava que nunca me iria livrar dessa frase. A coisa acalmou. Eu olhava para a situação e pensava “então isto é o que é ser adulta. Já não preciso de ouvir mais o que não me fica bem!” Andava satisfeita comigo mesmo. Orgulhosa do estatuto alcançado. Inchava quando até fazia alguma coisa “menos bem” e ninguém me condenava por isso. E eu que nem era a “menina modelo”, nem nunca o queria ter sido. Mas de facto, durante muito tempo até disso me convenci. Esforçava-me para parecer aquilo que era “bem” mesmo que isso me trouxesse alguma infelicidade.
Ultimamente esse sentimento de revolta contra tudo aquilo que “não fica bem” voltou. Voltaram à carga todas as teorias do que é ser uma “senhora”.
Reclamar sobre aquilo que achamos que temos direito, não fica bem. Sobre todas as coisas que nos fazem sofrer, não fica bem.
Dar um murro na mesa e fazer as coisas acontecerem, não fica bem.
Exigirmos respeito, que nos respeitem, até os nossos mais íntimos sentimentos, não fica bem.
Chorar em publico, mostrar o que somos, o que queremos, o que sentimos, não fica nada bem.
Tudo parece mal, meu deus! E tudo porque eu sou uma senhora ou uma menina (conforme os apetites) e tenho que estar sempre acima disso tudo.
É tão injusto! Eu não escolhi nada do que sou. De como sou. Do que a vida me trouxe. Me deu. Porque me tenho que diminuir e aceitar tudo. Por ser uma senhora? Uma senhora de bem? Eu agora até sou uma divorciada. E apesar de isso não ter nada de mal, porque é que a sociedade insiste em colocar nisso uma pitada de maldade. Porque é que as pessoas nos olham ou sorriem quando lhes respondemos sobre o nosso estado civil.
Se eu não fosse uma senhora.......!
E depois olho á minha volta. E os outros, e falo dos homens, podem fazer tudo o que querem. Não lhes fica bem, é um facto, certas atitudes que tomam. Mas eles não deixam de as fazer. Lutam por aquilo que querem. Fazem e desfazem nas suas vidas e na dos outros. E dizem e desdizem certas coisas, porque lhes apetece, conforme o que lhes convêm. E não lhes fica nada bem mas eles não querem saber. E eu olho-os. Sei que não lhes fica bem. Entristeço-me por eles e essencialmente por mim. Revolto-me. Juro que na próxima faço eu. Que isso jamais me irá fazer sentir infeliz ou menor.
Mas a verdade é que sei que o não vou fazer. Tudo porque a uma menina, a uma senhora simplesmente “não fica bem”!

quarta-feira, maio 31, 2006

Coisas insignificantes

Hoje acordei nostálgica. Com saudades de uma infinidade de coisas. Coisas bobas a que nunca dei especial significado mas que agora se me configuram como mel numa garganta irritada. Coisas simples e sem grande significado mas que agora me parecem as maiores façanhas do mundo.
Eu adoro viajar. Mas acho que mais do que isso, viajar e conhecer sítios, adoro andar de carro. Conduzida, bem entendido. Também gosto de conduzir mas o prazer de passear de carro, vendo as arvores e as casas a correrem como que a fugir de nós, só dá prazer no lugar à direita do condutor. Sim porque nem nos lugares traseiros eu gosto. Não se tem uma visão completa, perdem-se muitos pormenores. E eu sou uma pessoa de pormenores. Sou curiosa, quero ver tudo, sentir tudo, saborear tudo.
Tenho saudades de ser conduzida. De tirar prazer de um simples passeio de carro. De poder quase adormecer embalada com o movimento do carro, do calor do sol a bater-nos na cara e a aquecer-nos a alma, do torpor no corpo depois de umas horas sentada.
É estúpido, eu sei. Até porque não é um prazer nada especial, impossível de se concretizar, ou dispendioso (quer dizer, ao preço que a gasolina está, começa a ser um luxo na verdade!).
Mas hoje acordei assim, com uma daquelas vontades de ser conduzida, de passear de carro, como fiz tanta vez, por locais novos ou já conhecidos mas sempre com um enorme prazer. Prazer que só hoje descubro que tinha. Era tão normal fazê-lo que nem o sabia como prazer. Desfrutava-o. Muito. De todas as vezes. Mas não lhe reconhecia qualidades de verdadeiro prazer. Afinal era-o.
Depois isto fez-me pensar, de que mais tinha eu saudades? De que simples hábitos perdidos sentia eu a falta? Sorri ao mesmo tempo que as lágrimas me subiram aos olhos: tinha saudades também de cozinhar. Cozinhar. Qualquer coisa, um prato simples. Mas prepará-lo, com cuidado e sem pressas. Verificar os temperos, sentir o cheiro familiar dos meus cozinhados. Sentir crescer a água na boca, ansiosa por me poder sentar à mesa e deliciar-me com o “meu” cozinhado.
Sempre adorei cozinhar. Desde miúda. Lembro-me de como a minha mãe gostava especialmente desta minha paixão. Ao fim de semana lá me ia dizendo “este fim-de-semana não queres experimentar uma receita nova? Das tuas?” e sorria-me maliciosamente. Depois, talvez este prazer se tenha tornado em hábito, e de hábito em obrigação, e de obrigação em cansaço e daí em diante. Nunca cheguei a detestar cozinhar mas sei bem que das últimas vezes que o fiz não sentia “aquele” prazer.
Mas hoje, acordei assim. Nostálgica. E senti vontade de ser conduzida. E de fazer um cozinhado. E receber pessoas em casa. E do nada fazer um bom serão. E depois me enroscar na minha cama ou no meu sofá (lembrei-me agora que também tenho saudades de adormecer no sofá!). Sentir o calor invadir-me o corpo. E adormecer a sorrir. Cansada, com vontade, mas cheia de prazer.
De fazer alguém feliz e de me sentir também eu feliz.

(Obrigado ao Zé e à Calaia pelo passeio do fim de semana.)

quinta-feira, maio 25, 2006

Saber Amar

Uma vez disseram-me “eu não fui feito para amar ou ser amado”. Na altura sem perceber o verdadeiro significado desta declaração disse que eu, por outro lado, tinha sido feita para "amar e não ser amada". São coisas que deixamos sair, que muitas vezes sem pensar nos saem mas que transmitem bem aquilo que sentimos. Creio que muitas das vezes só não as pensamos porque nos fazem verdadeiramente sofrer e preferimos sorrir ao ouvi-las, ou dizer um ou dois disparates.
Na verdade, agora que penso mais friamente sobre essa frase creio que eu, apesar de tudo, tenho que me sentir melhor por amar e não ser amada. Não concebo a minha vida sem amor. Seja lá pelo que for. Mas amor, amor sentido, verdadeiro. E acho que amar nos faz bem. A mim faz-me sentir útil. Acordar de manhã e pensar que existe alguma coisa que me faz mover, ter esperança, alguma alegria. Para mim isso é fundamental!
Claro que existimos sempre nós, e que devemos viver para nós em primeiro lugar, que nos devemos amar acima de qualquer coisa. Nós somos o mais importante, sempre. Mas como com tudo aquilo que temos por certo, isso só não basta. Temos que ter algum “ser” para o qual possamos transferir o nosso amor, a nossa afeição. Para mim só isso me faz dar algum sentido à vida. Mesmo que o nosso amor não seja correspondido é bom amar. É bom manter a esperança, mesmo que ela nunca se concretize, ficar na expectativa de ver acontecer alguma coisa, muitas vezes sem sabermos bem o quê e sorrir quando uma migalha de sol nos cai no colo.
Agora, não amar? Não sentir vocação para? Não se sentir capaz de? Não concebo. E deve ser muito pior, muito mais triste. Deve doer muito mais. E claro, quem não é capaz de amar não se sente preparado para ser amado. Daí ter entendido perfeitamente o sentido da frase “não ser feito para amar ou ser amado”.
Isto fez-me lembrar uma definição de solidão que li no blog do VítorSolidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.” Creio que só alguém que sofra de solidão poderá dizer que não sabe amar!

(E por isso mesmo estou a pensar em comprar um Papagaio para me fazer companhia. O que acham?)

sexta-feira, maio 19, 2006

A ultima viagem (Fim)





Sexta, 24 de Fevereiro/05

Bem cedo acordamos e fomos ao pequeno-almoço. Tínhamos de sair cedo para dar a volta à ilha. Ás 9 da manha já o nosso guia nos esperava com um sorriso enorme e branco. Lá começamos o circuito começando pela praia Café, que já conhecíamos. Depois desta inúmeras praias, umas maiores do que outras, acessíveis ou nem por isso, todas elas envoltas numa imensa vegetação equatorial.

A praia Joana é na minha opinião a mais bela de todas. De acesso quase impossível, o seu mar verde é de cortar a respiração. Pena não ser mais perto, cerca de hora e meia a pé desde o resort, pois senão esta seria a minha praia eleita. Talvez por isso, estivesse completamente deserta. Um assombro simplesmente!

Ao longo do percurso, calor e cansaço. E mosquitos, muitos mosquitos. Vontade de desistir mas tambem de ver mais além. No final, o esforço valeu a pena. Tínhamos conquistado mais uma “tarefa” e podíamos dizer que conhecíamos o ilhéu das rolas de uma ponta à outra. Faltou visitar o Farol mas já não havia pernas para mais. E o João apanhou-nos uma rola para a fotografarmos. Afinal são estas que dão o nome ao ilhéu.

Sexta à tarde, descanso..............

Uma vez que íamos embora no dia seguinte, o resort tinha programado uma festa de despedida na Sexta ao jantar. Este foi realizado no edifício das tartarugas e foi reforçado. A fazer lembrar o nosso país, a ementa incluiu pratos mais portugueses, como o bacalhau com natas, e de sobremesa leite-creme. Depois do jantar mais um espectáculo à semelhança do primeiro, com danças tradicionais s.tomenses, mas desta vez com direito a fotos!



Sábado, 25 de Fevereiro/05

O último dia de viagem começou como o da nossa chegada ao ilhéu. Com uma valente tempestade! Acordamos ao som da trovoada e da forte chuva e vento que se fazia sentir. O pequeno almoço foi recheado de trovões e a cada um alguem soltava um grito. Estavamos todos em silêncio como que respeitando o temporal. Parecia que S. Tomé nos queria punir pela nossa partida. Eu sentia uma imensa tristeza e já uma saudade enorme, que nao conseguia explicar. Olhava à minha volta e sabia que o silêncio dos outros em parte tambem se devia a essa tristeza. Africa atinge-nos como um raio luminoso no coração. E é impossivel não nos sentirmos tristes ao partir. No cais de embarque os miudos da aldeia tinham-se reunido para a nossa partida. Todos sorridentes diziam-nos adeus e gritavam de alegria. O João tambem lá estava, mais calado e reservado do que os outros. Parecia triste e eu ainda lhe disse "vais ver, um dia ainda nos voltamos a encontrar..." e não deu para mais. As palavras ficaram retidas na garganta e só fui capaz de o abraçar.

Tínhamos combinado com o hotel sair do ilhéu logo cedo de manha para chegar ainda de manha à capital. Queríamos ver tudo, o mercado, as lojinhas típicas, as casas de fachada típica portuguesa, a marginal, o porto..... E tudo vimos, infelizmente o cartão de memória da máquina digital acabou-se. E poucas fotos da capital tenho.

Obrigatoriamente vou ter que voltar a S. Tomé. Ficou-me lá o coração e não me consigo lembrar de tudo o que vi sem me emocionar. Lembrar-me do João, a cara tristinha dele quando se despedia de nós e nos dava a sua morada. Lembrar-me das crianças do ilhéu que vieram até ao porto para se despedirem de nós, e que nos disseram adeus até nos perderem de vista. Lembrar-me do amanhecer abrasador. Das praias calmas. Do cheiro a Africa.

O meu coração ficou em S. Tomé e vou ter que voltar lá para o reaver. Por isso para mim esta foi sem duvida a ultima viagem. A viagem da minha vida. A que vou guardar para sempre no meu coração, já completamente retalhado. Quem sabe um dia não regresso mesmo e retomo a parte do meu coração que lá ficou? Quero muito fazer isso. Só não sei quando!

(obrigado a todos os que comigo fizeram esta viagem. Vocês foram e são muito importantes para mim. Um beijo.)

segunda-feira, maio 15, 2006

A ultima viagem (Parte 4)





Quarta, 22 de fevereiro/05

Como que uma prática antiga que queríamos manter, depois de uma dia de agitação completa seguia-se um outro de puro descanso. Daí o pessoal da fábrica de óleo de palma só trabalhar dia-sim-dia-não. Estávamos a meio da semana de férias e ainda nem tínhamos descansado bem. Assim dedicamos o dia completamente ao lazer. A praia de S. António mesmo ali ao pé era deliciosa. Enquanto a maré estava vaza uma espécie de pequena piscina natural forma-se a um canto da praia. Alias, não se tratava de uma piscina natural mas mais de um aquário em ponto gigante, uma vez que se nos imobilizássemos uns segundos na água, logo apareciam vindos dos pequenos buracos das rochas, uma imensidão de peixes pretos, laranjas, amarelos e alguns transparentes. Ficava horas extasiada a vê-los brincar.

Aqui conhecemos uns portugueses de Setúbal e de Sintra. Quatro casais fantásticos. Passamos a manha dentro do “aquário” na conversa. O tempo estava excelente, a água mais quente que morna, uns amigos simpáticos, uma conversa relaxante.......... S. Tomé era de facto um paraíso!





Quinta, 23 de Fevereiro/05

O dia começou com uma subida ao Marco do Equador para visita. Um percurso desgastante mas compensador pois a vista do alto do monte é fenomenal. À hora marcada lá estava o nosso guia pronto para nos levar ao local. Meia hora depois, debaixo de um sol escaldante, e rodeados de milhares de mosquitos, alcançamos o cume. Sentada em cima da linha que divide o mundo, senti-me quase como o Di Caprio "I'm the queen of the worldddddddd"!

Tínhamos planeado também uma volta ao ilhéu para o conhecer na totalidade mas depressa nos rendemos: com aquele calor ou saímos bem mais cedo ou então era impossível. Combinamos com o João para o dia seguinte, manha cedo, para irmos pela “fresca”, se é que se pode dizer que isso existe em S. Tomé.

Passamos o resto da manha a descansar, o chamado “dolce fari niente”!

Ao fim do dia o R. foi fazer o seu baptismo de mergulho. Eu acompanhei no barco mas não me atrevi a mergulhar. A minha falta de ar crónica impediu-me dessa ousadia e daí que enquanto eles mergulhavam eu fiquei em cima a curtir a paisagem e o sol. O ilhéu visto de alto mar é de facto uma das mais belas paisagens que confesso ter visto até à data. O mar azul esverdeado à minha volta, aquela temperatura escaldante, tal como eu gosto, fez-me sentir o céu.

O R. adorou o mergulho e diz que viu alguns peixes fantásticos como o peixe papagaio de todas as cores possiveis e imaginárias, mas trouxe também um tímpano descolado o que lhe valeu uma ida ao médico no regresso a casa. Mas o dia estava ganho, com ou sem tímpano, tinha valido a pena. O fundo do mar assemelha-se a um outro mundo, enorme, completamente desconhecido mas definitivamente fascinante.

sexta-feira, maio 12, 2006

A ultima viagem (Parte3)



Segunda, 20 Fevereiro/05

Depois de quase um dia inteiro em viagem, adoptando diferentes meios de transporte, segunda-feira estávamos completamente cansados. Ainda bem que estávamos de férias e que não tínhamos nenhum compromisso marcado com ninguém. Assim, dedicamos o dia para o descanso.

Depois do pequeno-almoço fomos descobrir uma pequena praia junto ao restaurante do hotel. A Praia de Santo António, é simplesmente deslumbrante. Fazendo uma pequena baia de mar verde, banha uma areia imensamente branca. Descemos as escadas até ao fundo da praia e não conseguíamos deixar de nos espantar com a beleza natural daquela praia. Foi chegar, estender a toalha e mergulhar imediatamente na água. O calor apertava e a areia tornava-se difícil de se calcar de tão quente que estava. A água era de facto o único local que se conseguia suportar. Uma água tão quente como eu nunca antes tinha visto. A parte da manha foi passada aqui e posso dizer que de facto estivemos um bom par de horas de molho.

Nessa tarde decidimos voltar à nossa Praia Café. E mais uma vez estivemos rodeados de crianças que nos pediam doces e que não nos largavam por nada. O nosso amigo João não estava, tinha ido com outros visitantes do ilhéu passear pela ilha. Marcamos um encontro com uma miúda que insistia que era sua prima, para o dia seguinte.

Pela noite, o hotel tinha-nos reservado uma surpresa muito agradável. Depois do jantar fomos presenteados com uma noite de danças e musicas típicas de S. Tomé, no Bar do Golfinho. A musica africana, no inicio estranha e bastante diferente para nós, rapidamente nos vai contagiando e acabamos por nos deixar envolver totalmente. Os artistas convidados demonstraram vários tipos de dança, uma delas e se calhar a mais típica, A Tragédia. O final foi uma musica super alegre e muito contagiante que pôs todos de pé a dançar.


Terça, 21 de Fevereiro/05

Depois de um dia de descanso era tempo de partir à descoberta de mais coisas sobre S.Tomé. Por isso, dedicamos este dia para fazer uma excursão pelo sul da ilha, a zona de Caué. É complicado descrever a viagem apenas com palavras. As paisagens de mato verde que nos envolvem em toda a viagem são fascinantes. As pequenas praias são de uma beleza extraordinária. Mas o calor ao longo de todo o percurso é sufocante e as estradas não nos esqueçamos que não são as melhores. É por isso um misto de completo deslumbramento e extremo cansaço.

Visitamos Porto Alegre e ficamos desiludidos. Uma antiga roça portuguesa a cair completamente aos pedaços. Já sem janelas e sem portas mas sobranceira ao mar. Com uma vista linda para o ilhéu das rolas ao fundo. À volta da roça, minúsculos casinhotos de madeira das poucas pessoas que ali vivem. Saúdam-nos à passagem, mas o cheiro é tão intenso a peixe podre e a dejectos humanos que nós nem nos atrevemos a descer do carro.

Meia volta rumo a S. João de Angolares passamos entretanto por uma exploração agrícola que pertence ao próprio resort do Pestana, onde estamos instalados. É nessa exploração que se cultiva a manga, abacaxi, laranja e todo o tipo de legumes que o restaurante do hotel necessita para as refeições. Foi aí que tomamos conhecimento pela única vez com a famosa cobra preta de S. Tomé da qual constam historias que a sua mordedura é fatal, uma vez que não existe um antídoto contra o seu poderoso veneno. Graças a deus esta já estava morta quando chegamos à quinta.

Daqui seguimos para visitar uma fabrica produtora de Óleo de Palma, produto típico e que já começa a ser conhecido da cultura gastronómica S. Tomense. Por fábrica entenda-se uma empresa de fabrico quase artesanal de óleo de palma. Todo o processo desde a recolha do fruto de palma até à sua passagem a pasta e posteriormente ao oleo final é feito nesta empresa através de uma maquinaria pesada velha e que funciona a vapor imagine-se. Um ponto de interesse historio sem duvida. Mas o que nos surpreende mais nesta empresa é quando o encarregado nos diz que a empresa trabalha dia sim dia não por falta de matéria-prima. Olhamos à volta, e durante uns 5 ou 10 km só encontramos como que um grande palmeiral, com uns largos milhares de arvores e ficamos na duvida pelos motivos da verdadeira falta de matéria-prima.

Depois seguimos para a ultima visita antes de almoço, a povoação de S. João de Angolares. Num total de cerca de 50 km tínhamos gasto quase 4 horas, num percurso fisicamente muito cansativo. Chegando à povoação fomos de imediato visitar a escola local. Ninguém parecia contar com esta visita, e as crianças, sem duvida o grande valor de S. Tomé, corriam ao nosso redor, felizes e sorridentes enquanto nos chamavam amigos e nos perguntavam o nome. O director da escola recebeu-nos alegremente e fez-nos uma visita guiada pelas salas de aula impecáveis e mostrando-nos também o recreio e cantina dos alunos. A escola tinha presentemente 400 alunos e todos os anos o numero aumentava. A cantina foi talvez o único local da escola que nos impressionou pela negativa. Um espaço com cerca de 3 m2, com um fogão a lenha, e dois enormes panelões de papa de milho.


Deixamos a criançada e o seu professor e dando uma vista rápida pelo centro da povoação seguimos para a Roça de S. João, onde iríamos almoçar. Esta roça esta completamente recuperada e tem uma pousada e um restaurante muito típicos e simpáticos. Pertence a João Carlos o famoso apresentador de televisão do programa “Na roça com os tachos”. Aqui podemos apreciar a própria beleza da roça, uma casa de construção portuguesa, bem recuperada, com 2 pisos, janelas em toda a volta, com uma vista fantástica para o mar lá em baixo. Ao fundo da roça podíamos ver as antigas instalações da roça que serviam de hospital e de creche para os trabalhadores da mesma. Este era o local ideal para se ler o romance do Miguel Sousa Tavares, pois aqui tem-se a noção perfeitamente realista das roças que ele tão bem nos descreve.

O almoço típico de S.Tomé iniciou-se com umas bolinhas de peixe seco e omelete de micócó, erva aromática famosa deste país. Depois uma moqueca de gambas e peixe seco excelentemente acompanhada com um arroz de ervas aromáticas como nunca comi. De sobremesa tivemos fruta da região: papaia e jaca. Terminamos a saborosa refeição com o café de S. Tomé e depois daquela refeição e com aquela temperatura só apetecia ficar mesmo por ali a descansar e aproveitar a beleza do local.

Após uma pequena sesta bem merecida retomamos caminho de volta à ponta da baleia. Ainda eram umas 4 horas da tarde mas nós estávamos exaustos. A excursão tinha sido excelente mas as condições em que tinha sido feita tinham-nos feito num oito. Ainda antes de chegarmos ao local de embarque fomos visitar a Roça de Ribeira Peixe. Uma roça simplesmente espectacular que fica junto ao mar e que não passa hoje em dia de uma velha aldeia com um numero imenso de habitantes que nos saúdam ao passar. Um local levou-nos ainda a conhecer a famosa cascata de Ribeira Peixe, onde era costume os turistas banharam-se. Nós estávamos mortos de cansaço e só queríamos uma coisa: o hotel.

Daqui à ponta da baleia foi um pulo. E a viagem de barco parece-nos ainda mais rápida. Nesse dia praticamente não fizemos mais nada. Foi descansar antes do jantar e depois do café, de volta ao quarto para descansar. Começávamos a dar razão ao s.tomenses: trabalhar com este clima é muito complicado. As simples deslocações a pé ou de carro deixam-nos extenuados. Era preciso recuperar forças pois ainda há muito para ver neste ilhéu.

quarta-feira, maio 10, 2006

(uma pausa nesta viagem para uma confissão)

Sinto a minha vida em stand-by. Está parada, prestes a prosseguir mas parece que alguém carregou no pause e ela estacou, nesse preciso momento. Sinto que tenho que reiniciar mas se calhar ainda não chegou o tempo, a altura certa. “Ainda é cedo”, “o mundo não vai acabar”. Não? Quem me garante que não vai? Quem me dissesse há uns meses atrás que hoje estava em stand-by eu também não acreditava. Por isso também não acredito que o mundo não vai acabar. Quem sabe já amanha.
O mais difícil nas mudanças de vida é o traçar de novos objectivos. Esquecer e pôr de lado aqueles que tínhamos já como certos e para os quais lutávamos todos os dias. Mudar de vida significa deixar de lutar por eles, por esse objectivos traçados. E desenhar novos, baseados naquilo em que nos tornamos. E isso é o que mais custa. Desprendermo-nos dos nossos objectivos é como nos desprendermos de alguém que ainda amamos. È difícil e duro. Dói, lá, profundamente. E depois colocarmo-nos perante novos desafios parece tarefa vã, inútil, sem significado. Para quê? Tantos objectivos sonhei concretizar e depois de um dia para a noite eles esfumaram-se, como num passe de mágica, mesmo sem avisar.
Vou permanecer em stand-by. Ainda não sei por quanto tempo. De todos os lados surgem obstáculos que não me permitem chegar à tecla pause para que a minha vida recomece. Mas eu sei que vai chegar a altura de voltar a tocar a vida em frente. Só ainda não sei quando.

(a viagem segue já de seguida. quem quiser é favor subir a bordo)

sexta-feira, maio 05, 2006

A ultima viagem (Parte 2)


Domingo, 20 de Fevereiro/05

Contra todos os pressupostos passamos a alfândega em menos de meia hora. Neste aspecto S. Tomé não se assemelha a um país de África. A propositada burocracia, as tentativas dos funcionários do estado para serem subornados por nós para nos facilitar a entrada no país, nada disso se passou à chegada a esta ilha. Assim, eram 7 horas da manha e subíamos já a bordo de uma nova viagem, desta vez num carrinha Toyota de 8 lugares, já bastante usada e pouco conservada, para nos levar do aeroporto ao nosso destino final- o ilhéu das rolas.

O nosso guia chamava-se Severino Melo. Dizia ele que pertencia à família Melo de S.Tomé, uma família importante segundo o próprio, com vários elementos em lugares públicos. A viagem de 90 km iria demorar cerca de 3 horas. Isso mesmo, 3 horas de viagem para percorrer apenas 90km. O Severino dizia que a estrada era muito má mas o que nós encontramos foram estradas praticamente intransitáveis e que iam piorando à medida que nos deslocávamos para sul. A juntar a enormes buracos no pavimento, a locais sem qualquer ponta de alcatrão, juntava-se ainda umas quantas pontes caídas ou em muito mal estado que nos obrigavam a atravessar o rio através do seu próprio leito. Havia alturas em que a estrada dava lugar a simples caminhos no meio da intensa vegetação de S.Tomé, o que nos fazia imaginar que estávamos no meio da selva num safari.

O Severino ia apresentado os vários locais por onde íamos passando. Santana, a povoação mais perto da capital e que era a sua terra natal. Um amontoado de casas de madeira, pequenas palhotas de madeira escura, velha e sujas, era aquilo que conseguimos ver. E montanhas de gente. Homens, mulheres e crianças, espalhados por todos os lados. Sentados na berma das estradas, na porta das casas, nas pequenas lojas da aldeia. O Severino de minuto a minuto apitava na buzina da carrinha e ia cumprimentando parecia-nos que toda a gente.
- Todos somos amigos aqui, dizia, e esforçamo-nos para nunca haver brigas.
A população ia-nos saudando também, dizendo adeus e ofuscando-nos com os seus lindos sorrisos brancos.
Uns quilómetros mais à frente chegávamos à Roça de Água Izé imortalizada no livro de Miguel Sousa Tavares, “Equador”, leitura obrigatória a todos os que pensem conhecer S.Tomé e Príncipe. Aquilo que restava agora assemelhava-se a um enorme complexo fabril, com varias habitações em redor, escadarias e ruelas, como uma pequena vilazinha portuguesa. Mas como que uma vila fantasma. Vazia ou esvaziada de vida ou de um objectivo. O intenso labor de outros tempos era agora não mais que uma recordação. Tentei em vão imaginar como teria sido a roça no tempo dos portugueses. O Severino ia-nos dizendo que nesse tempo esta roça era uma das maiores e com maior produção de café e cacau. E acrescentava que depois que nos tínhamos vindo embora em 1975, tinha ele 5 anos, tudo tinha acabado. O governo tinha tomado conta da roça e depois dividido pela população, antigos trabalhadores na mesma. Hoje em dia cada um tinha o seu bocado e fazia dele aquilo que quisesse. Como o típico S. tomense não aprecia particularmente o trabalho, pode-se facilmente imaginar como se encontra agora a roça.

E o percurso, todo ele, toda a descida até ao sul, um imenso manto verde, um manto de vegetação. Mil espécies de arvores, de frutos, de arbustos, palmeiras, numa mistura difícil sequer de inumerar. E a estrada ia piorando, tornando-se mais difícil de transpor.
- Mais lá para a frente tem um pedaço de estrada melhor, ia dizendo o Severino, talvez para nos manter animados.
E prosseguia encosta abaixo, encosta acima, conduzindo-nos por uma mata espessa onde deixávamos até de ver o mar, onde nos sentíamos perdidos no verde ofuscante. E mais a frente, assim de repente, mais uma praia deslumbrante, o verde brilhante do mar, uma paisagem de cortar a respiração.

A população seguinte mais importante a que chegamos foi S. João de Angolares a cerca de 40 km do cais de embarque. A custo tentávamo-nos manter animados. Sempre à espera do tal pedaço de estrada melhor que parecia nunca mais surgir. Antes dele ainda tivemos que transpor vários ribeiros e até um rio, o Rio grande, exactamente por cima da água, em tábuas meticulosamente colocadas para servir de ponte. Isto porque esta via-se a poucos metros de nós, quase desfeita e a cair.
- Quando a água sobe, temos que arriscar pelas pontes, disse-nos o Severino. As pessoas desembarcam, e nós aceleramos, e seja o que deus quiser!
Sorrimos e demos graças a Deus pela estação das chuvas estar só no seu inicio.

Quando já todos pensávamos não aguentar mais, eis que finalmente chegamos ao cais de embarque, a Ponta da baleia. Do outro lado, e apenas a 20 minutos de barco, finalmente, o ilhéu das rolas. Despedimo-nos do Severino até outro dia.
Trinta e duas pessoas, sem malas, embarcam no barco do resort que nos levará ao nosso tão desejado destino. Sobre um mar agitado, quem disse que o mar era sossegado por estas paragens, lá íamos contando os minutos como que para chegar finalmente a casa. Durante todo o percurso do aeroporto até aqui, o calor tinha sido insuportável, mas no barco tornava-se pior, uma vez que viajávamos debaixo de sol e ainda vestidos com coletes salva-vidas. Lembro-me de olhar para o ilhéu e sentir que jamais o alcançaríamos, pois parecia sempre distante. E lembro-me da forte ondulação que me revolvia o estômago. E do verde. O verde exuberante dessa pequena ilha no meio do atlântico.

Eram quase 11 horas da manha quando desembarcamos no ilhéu. Extenuados pelo calor e pela longa viagem que se tinha iniciado de comboio no Porto, e tinha passado por esses diversos meios de transporte. O primeiro impacto nestas condições é quase sempre desanimador. Tanto pelo que passamos para isto? Isto é apenas uma ilha! Uma ilha diferente, exótica, deslumbrante mas....... o calor e o cansaço vencem a euforia natural que nos deveria atingir.
Próximo acontecimento: a welcome drink! Água de coco ao natural! Pois, ao natural mesmo! E depois finalmente o check-in no hotel. Ficamos instalados no quarto 303, que ficava em frente ao mar, ao jacuzzi e à piscina do resort. Estávamos ansiosos por nos livrar daquela roupa e poder refrescar-nos naquele imenso mar mas ainda faltavam as malas que tinham ficado do outro lado, no cais de embarque. Estas só chegaram ao fim de uma boa hora. Finalmente podíamos partir à descoberta do ilhéu, tomar banho nesse mar verde, esteirarmo-nos na areia e descansar!

Mas antes de tudo isso era preciso retemperar o estômago e daí que fomos almoçar ao Bar do Pepe. Umas sandwiches e muita bebida numa tentativa frustada de matar a sede. Perguntamos ao empregado do bar qual era a melhor praia por ali, ao que ele nos indicou a Praia do Café!
Seguindo as indicações que nos deram, lá fomos nós descobrir a Praia café. Passamos a recepção, a capela do ilhéu com a sua fachada branca e azul a lembrar algumas casas de Portugal, a praia dos pescadores. Nessa praia a primeira revelação. A exuberante vegetação tocava quase no mar. Meia dúzia de barcos de madeira, frágeis e simples, dos pescadores da aldeia, que serviam para fornecer o peixe para o restaurante do hotel e também para o consumo local da população. Habituados já aos turistas por aqueles lados, havia pescadores que ofereciam já almoços na praia por apenas 5 €. Nós, na verdade, não experimentamos. As condições de higiene em que eram confeccionados os alimentos eram para nós um mistério e preferimos não arriscar. Não é por nada de especial, mas quem vai à consulta do viajante antes de embarcar para S.Tomé e se vê confrontado com um grande numero de vacinas, medicamentos, conselhos médicos e outras profilaxias, fica um pouco assustado. E nenhum de nós estava disposto a contrair a malária ou outro tipo qualquer de doença local.

Depois, e transpondo finalmente a linha do equador para o hemisfério sul, lá encontramos a dita praia. Sem palavras! A cor da água era qualquer coisa de fantástico. Um verde quase esmeralda, uma areia quase branca. A paixão por África começou aqui!

Mas a verdadeira paixão, é pelas pessoas, principalmente pelas crianças. De todos os cantos, e enquanto nos dirigíamos para a praia, foram-nos assaltando pelo caminha, perguntado-nos alegremente o nome e pedindo doces. Foi assim que conhecemos o João. Este menino de 13 anos decidiu acompanhar-nos até a praia e com o seu sorriso branco resplandecente lá nos ia fazendo perguntas de Portugal e respondendo ás nossas questões. Foi o verdadeiro anfitrião de S. Tomé! Conversou muito, queria saber muitas coisas e contou-nos também alguns dos seus gostos e desejos. Era benfiquista, e queria ser engenheiro civil. Estudar em Lisboa na universidade técnica. Tinha família em Leiria e contava em Junho poder ir a Portugal visita-los. Desde logo ficou com o nosso convite de nos encontrarmos em Portugal. Ele meio maravilhado, meio desconfiado lá ia sorrindo.

Enquanto conversávamos com o nosso pequenos anfitrião, víamos ao longe a aglomerar-se umas nuvens negras que cobriam já as partes mais altas da ilha de S.Tomé à nossa frente.
- Vem aí chuva João?
Sim hoje ia chover com toda a certeza. Estávamos no inicio da época das chuvas em S.Tomé. A temperatura era mais elevada mas havia mais humidade e chovia quase todos os dias ao entardecer. E não foi preciso muito tempo para de facto começar a cair a chuva. Tivemos tempo apenas para uns banhos de mar e meia hora de descanso deitados na toalha. De repente, o João levantou-se e disse-nos:
- Vamos embora, vai chover!
Depressa nos levantamos, nos vestimos e nos pusemos a caminha. A chuva começou então a cair em pingos grossos que refrescavam e encharcavam ao mesmo tempo. Num segundo abateu-se uma verdadeira tempestade de vento e chuva à mistura.
- Temos que ir pela praia, gritou-nos o João, é perigoso ir por este caminho, ainda nos pode cair um coco na cabeça!!!
Assustados corremos atrás daquele menino que parecia tão indefeso e ao mesmo tempo tão forte e sabedor das coisas. A nossa fuga a correr durou para aí um minuto porque o calor e a humidade rapidamente nos tirou o fôlego para continuar. Paramos de correr e continuamos em passo mais lento e o João como bom anfitrião, abrandou também nunca nos abandonando. Parecia o fim do mundo. Era o paraíso transformado no inferno. Chuva torrencial, vento forte que nos atirava para trás, folhas pelo ar, o barulho das arvores atrás de nós, os fortes relâmpagos que cortavam a escuridão que de repente se tinha abatido no ilhéu.
Junto da aldeia dos pescadores despedimo-nos do João e seguindo pelo caminho já conhecido chegamos novamente ao Bar do Pepe. Parecia que todos tínhamos tido a mesma ideia e era vermo-nos todos engalfinhados no minúsculo espaço do bar. Olhávamos para a tempestade lá fora e sorrimos. O primeiro dia em S.Tomé e tínhamos sido logo confrontados com uma tempestade equatorial. Encharcados até aos ossos mas felizes rumamos ao nosso quarto para nos secarmos. Não convinha apanharmos uma constipação logo no primeiro dia. E assim foi o nosso primeiro dia de aventura no ilhéu, apanhados pelo que os locais chamaram de pequeno tufão.

terça-feira, maio 02, 2006

A ultima viagem. (Parte 1)


O meu primeiro contacto com África, a África dos portugueses, foi na verdade S.Tomé e Principe. Embarquei a 19 de Fevereiro/05 com destino a S.Tomé numa viagem de 9 dias.
A viagem começou num Sábado à tarde com partida do Porto ás 17.15 no Alfa/pendular com destino a Lisboa, estação do Oriente. Com a duração de 3 horas, foi um início de viagem tranquilo e de completo relaxe em comparação com aquilo que nos esperava até ao nosso destino. Chegados a Lisboa pelas 20 horas apanhamos um taxi rumo ao aeroporto da Portela. Faltavam 15 minutos para as 21 quando fizemos o check-in no balcão da Air Luxor, para o voo CZ-508 com partida confirmada para as 00:05.
Depois de despachadas as malas foi tempo de retemperar as forças e de nos prepararmos para mais um percurso, desta vez mais longo e cansativo. Foi o tempo de jantar e fazermos as ultimas compras na “civilização”, uma vez que nos encontrávamos a viajar rumo a África. Nunca se sabe o que por lá existe ou não e convinha não esquecer nenhum dos produtos a que estamos habituados a consumir diariamente por cá.
A viagem de avião durou 6 horas e 15 minutos. Como foi feita de noite e reforçada com um Xanax logo após a entrada no avião, a viagem revelou-se mais ou menos relaxada, apesar de longa. Uma vez em S.Tomé, o destino era agora o Ilhéu das Rolas, a sul da ilha, a 90km da capital.